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Comércio e consumo de álcool são proibidos. Na USP e na Faculdade de Engenharia Química de Lorena (Faenquil). Mas, de vez em quando, em dia de confraternização e churrasco, funcionários da Faenquil abrem a torneira de um barril de 150 litros e aceitam o desafio de provar a cerveja que os pós-graduandos Juliano Dragone Mealnicof e Giovane Brandão Mafra de Carvalho fabricam em laboratório, sob a coordenação do engenheiro químico e diretor da faculdade João Batista de Almeida e Silva. Cento e cinqüenta litros é a cota para cada experimento. E são vários, conforme os adjuntos (matérias-primas) utilizados e o sabor desejado: cevada, trigo, arroz, banana. A cerveja pode ser clara ou escura; escura, quando o malte é torrado ou o arroz do experimento é preto. De qualquer forma, as cervejas fabricadas em laboratório da Faenquil costumam ser mais leves que as tradicionais do mercado. É o que asseguram as degustações coletivas em dia de churrasco e é o que diz a equipe de análise sensorial (agora em fase de renovação) que participa dos experimentos e é treinada para isso.

Dragone desenvolve a produção de cerveja pelo processo contínuo, pelo qual o produto final vai saindo pronto à medida que o experimento recebe os nutrientes. Diferente do processo pelo ciclo tradicional, que necessita de pelo menos três semanas de incubação até que a cerveja possa ser tirada. Nos dois casos há fermentação, mas no ciclo contínuo não há espera.

Dos ingredientes utilizados na fabricação de cerveja (cevada, lúpulo, malte, água e adjuntos), o lúpulo é que dá o amargor à bebida. Trata-se de uma planta da família das trepadeiras, cuja flor é prensada para extração do óleo essencial.

Os dois pós-graduandos estão satisfeitos com os resultados alcançados até agora e esperam que em breve a cerveja de laboratório passe a interessar a pequenas indústrias, diversificando a oferta nacional da bebida. Quem sabe, um novo mercado não espera os produtores de banana? Além de cerveja, a Faenquil vem fazendo pesquisas com outros tipos de bebida como vinho e rum, contando sempre com apoio da Fapesp.


O pós-graduando Dragone: um novo sistema de produção de cerveja

Açúcares

No Departamento de Biotecnologia, o chefe Arnaldo Marcio Ramalho Prata, que tem doutorado na área de microbiologia industrial e fermentação obtido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, explica que a sua equipe desenvolve pesquisas com resíduos lignocelulósicos, isto é, madeiras, bagaço de cana, palha de trigo e outros tipos de biomassa vegetal. Essas matérias são convertidas em açúcares através de processos de hidrólise. Em seguida, os açúcares são fermentados para obtenção dos produtos de interesse, a exemplo do xilitol, já com estudos bem adiantados na Faenquil. Em fase inicial, há pesquisas para produção de ácido cítrico e butano diol, um tipo de álcool.

O xilitol é um açúcar tipo cristal, extremamente doce e com sabor refrescante, recomendado para diabéticos, e pode ser adicionado a diversos produtos, inclusive cosméticos e pastas dentais sem risco de produzir cárie. A produção em Lorena ainda se limita à experimentação, mas o departamento já solicitou ao governo do Estado recursos para aquisição de equipamentos adequados para produção em escala maior. Além do objetivo de contribuir para a produção industrial, reduzir custos e melhorar o rendimento, a pesquisa em laboratório atende à necessidade de treinar os alunos da pós-graduação e de formar técnicos especializados na área. A equipe é de 16 pesquisadores, sendo seis na área de fermentação. Entre as atividades do departamento inclui-se a produção de enzimas para o tratamento de materiais destinados a diversos fins, a exemplo da produção de inseticida de liberação controlada e polpação de madeiras para produção de papel. A biopolpação utiliza microorganismos que ajudam a transformar o material sólido (de eucalipto, por exemplo) em pasta. O departamento também pesquisa processo biológico alternativo de branqueamento da madeira, utilizando menos cloro, um material tóxico, do que se usa no processo industrial tradicional.

Mas o que chama mais a atenção é o trabalho de um grupo que pretende contribuir decisivamente para a despoluição de rios, tratando os resíduos biologicamente. O interesse imediato da pesquisa está a poucos metros do campus principal da Faenquil: o rio Paraíba do Sul, que, embora ainda tenha peixes, denuncia de longe a influência negativa dos esgotos domésticos e industriais captados das cidades ao longo da Via Dutra.


Sandim: tecnologia de purificação de nióbio é uma conquista da Faenquil

O nióbio é nosso

O Brasil lidera a produção mundial de nióbio, utilizado na fabricação de supercondutores, e a Faenquil tem muito a ver com isso. O professor Hugo Ricardo Sandim, engenheiro químico formado em Lorena, com mestrado em engenharia de materiais na Faenquil e doutorado na Escola Politécnica da USP, conta a história. Desde a década de 80, ele trabalhou no forno de fusão por feixe de elétrons, de origem alemã, o equipamento mais importante para refino e purificação de nióbio metálico, instalado no Departamento de Engenharia de Materiais. De 1981 até 2000, o setor produziu cerca de cem toneladas de nióbio metálico, mas, desde então, o projeto foi paralisado, porque a empresa que financiava as pesquisas, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), adquiriu forno próprio e deixou de atuar em Lorena. De qualquer modo, toda a tecnologia de purificação do nióbio foi desenvolvida na Faenquil, projeto iniciado por um grupo de engenheiros vindos da Unicamp no final da década de 70. Em 12 anos o Brasil conquistou a auto-suficiência tecnológica no beneficiamento do produto. Sandim e equipe trabalhavam também em projetos que envolviam outros metais, como o tântalo e o titânio metálicos, em parceria com empresas privadas.

“O equipamento que temos em Lorena permite a fusão de metais em temperaturas que vão de 1.600 a 3 mil graus centígrados. Até o ano 2000, ele funcionava 24 horas por dia, quatro semanas por mês”, explica Sandim. Para ter aplicações o nióbio precisa de alta pureza, mas, antes do projeto da Faenquil, o Brasil o vendia apenas na forma de minério e a preços irrisórios. Atualmente, na forma metálica pura, é exportado a US$ 75 o quilo. Pode e é também exportado como ferro-nióbio e aço-nióbio, com valor agregado muito menor. Os maiores importadores de nióbio são Alemanha, Japão e Estados Unidos.

Tecnologicamente insubstituível, o nióbio metálico é utilizado na fabricação de supercondutores, que estão presentes em magnetos (ímãs poderosos) para ressonância magnética, na área de medicina; adicionado, tempera aços e forma superligas à base de níquel para uso em altas temperaturas, especialmente na tecnologia aeroespacial.

Na Faenquil, o nióbio era processado na forma de lingotes, mas o material é extremamente dúctil e pode ser laminado ou trefilado para a fabricação de chapas, fios, tubos ou qualquer outra forma desejada. Mais de 90% do minério de nióbio do mundo está no Brasil, com minas em Minas Gerais (Araxá) e Goiás (Catalão). Recentemente foram descobertas minas na Amazônia, mas sem interesse comercial, entre outras razões porque a região é de proteção ambiental.

Embora o projeto nióbio tenha sido concluído há vários anos, na Faenquil continuam sendo desenvolvidas pesquisas que envolvem esse minério/metal e seus compostos e ligas. Um grupo trabalha especialmente no desenvolvimento de ligas intermetálicas para altas temperaturas; outro, na fabricação de cabos multifilamentares, a partir de ligas de nióbio-titânico e nióbio-estanho. Nióbio metálico na forma de cilindros pode e o maquinário onde é trabalhado podem ser observados no Departamento de Engenharia de Materiais

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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