1ª Mostra de Microbiologia, realizada
em maio passado: o universo invisível dos microorganismos
ensinado de forma lúdica e acessível
Nesta semana, de 16 a 20 de outubro, o Instituto de Ciências
Biomédicas (ICB) da USP apresenta a 2ª Mostra de Microbiologia,
que desvenda o mundo dos microorganismos de forma lúdica
para alunos de escolas públicas e privadas, de 11 a 18
anos. Através de maquetes, jogos e uma linguagem simples,
os jovens entram em contato com a diversidade dos microorganismos
e aprendem na prática onde eles vivem e o que trazem
de malefícios
e benefícios para o homem e o ambiente. “O que nós
fazemos é usar uma linguagem muito básica e apresentar
o conteúdo numa seqüência: primeiro, os conceitos
básicos, e depois onde os microorganismos vivem e o que
fazem”,
explica Márcia Pinto Alves Mayer, professora do Departamento
de Microbiologia do ICB e coordenadora da mostra.
Para tornar a visita mais lúdica, a mostra foi organizada
do ponto de vista do microorganismo, como se ele contasse sua própria
história. Assim, foram desenvolvidas três partes: “Quem
somos”, “Como e onde vivemos” e “Ajudando
você”. Logo na entrada, os alunos se deparam com a Árvore
da Vida na Terra – uma maquete que mostra os três grandes
domínios da vida no planeta, archae, bactérias e eucariotos.
Com essa maquete, eles aprendem que plantas, animais e seres humanos
são apenas alguns galhos na menor das ramificações
da árvore, a dos eucariotos.
Nas outras duas grandes ramificações (archae e bactérias)
estão todos os microorganismos, que, apesar de imperceptíveis
ao homem, são a grande fração da vida terrestre.
“A versatilidade desse grupo é muito grande. Eles estavam
aqui antes do aparecimento dos ditos organismos superiores, como
o nosso, e vão estar aqui quando toda outra forma de vida
não tiver mais condição de existir”,
afirma Márcia.
Na segunda etapa da mostra, os alunos conhecem como e onde vivem
esses microorganismos na natureza e nos seres vivos, desde os lugares
mais comuns até ambientes extremos, como outros planetas.
Através da comparação das condições
físico-químicas de Marte com as da Terra, os monitores
polemizam se é possível existir microorganismos extraterrestres,
teoria estudada pela astrobiologia.
Um dos destaques da mostra é uma “casa microassombrada”,
montada pelos organizadores para mostrar aos alunos os microorganismos
dentro das residências, seja num alimento deteriorado, numa
esponja em cima da pia, no queijo, dentro da geladeira ou mesmo
no botão da descarga do banheiro. Num recinto escuro, o monitor
acende uma luz ultravioleta e evidencia os locais de maior concentração
de microorganismos, previamente tratados com um material fluorescente.
“O monitor diz que é um caçador de microorganismos
e que vai procurar onde eles ficam, sempre interagindo com os alunos”,
relata Márcia.
Outro destaque é a maquete de uma vaca, que mostra as bactérias
presentes no rúmen, órgão do sistema digestivo
do animal. Essas bactérias são responsáveis
pela produção de metano, gás nocivo à
camada de ozônio. “Com as maquetes, o público
vê onde é o rúmen e entende na prática
como é esse processo”, diz a professora.
Na última etapa da mostra, os alunos conhecem como os microorganismos
são utilizados pelo homem para a produção de
bens de consumo, desde plásticos biodegradáveis e
antibióticos até alimentos. “Ali nós
mostramos que os microorganismos, embora não sejam vistos,
estão presentes no nosso dia-a-dia. Na produção
de um iogurte, na produção de um queijo ou na produção
de cerveja”, enumera Márcia.
Após conhecerem esse mundo invisível, os jovens
podem pôr em prática o conhecimento, numa sala de jogos
especialmente desenvolvidos pelo ICB. “São diversos
jogos já conhecidos por eles na prática, mas que foram
adaptados para o desenvolvimento do conhecimento da microbiologia”,
detalha a professora.
Por último, as crianças são levadas até
o auditório do ICB, onde assistem a um filme sobre a busca
de microorganismos na Antártica. Com duração
de 20 minutos, o filme mostra a rotina de pesquisa na Antártica,
a partir da experiência dos pesquisadores da USP em Comandante
Ferraz, base brasileira na região. “Tudo isso com o
objetivo de mostrar para os alunos que eles podem, sim, entrar na
USP, que vão ser muito bem-vindos, que a ciência é
uma possibilidade de carreira e que a microbiologia é uma
possível profissão.”
A professora Márcia Mayer
Monitores – Apesar de ser aberta também
para escolas privadas, o público-alvo da mostra são
os jovens do ensino público. Segundo Márcia, essa
é uma forma de democratizar o conhecimento e estimular neles
a vocação em ciências. “As pessoas precisam
de informação em biodiversidade. O mundo microbiano
é muito amplo”, diz.
Quando chegam à mostra, os alunos são divididos
em grupos menores e acompanhados por um monitor durante toda a visita,
que dura em média uma hora e meia. São cerca de 80
alunos de graduação e de pós-graduação,
que se cadastraram para o cargo já na 1a Mostra de Microbiologia,
em maio passado. “A todo momento nós temos pelo menos
18 monitores na mostra, para que as crianças sejam muito
bem acompanhadas”, relata Márcia.
A primeira edição da mostra atraiu 1.240 crianças
e adolescentes, dos quais 70% eram de escolas públicas. Devido
à grande demanda, o ICB decidiu realizar uma reedição
do evento, com um maior número de atividades lúdicas,
como jogos e teatro. “Nós corrigimos uma série
de falhas, entre elas alguns pontos que não foram abordados
com a profundidade necessária. Também fizemos uma
avaliação com os professores de ciências que
acompanharam as crianças, e eles pediram que a mostra fosse
mais lúdica, para que as crianças pudessem se envolver
mais”, explica Márcia, sobre as mudanças para
esta segunda edição.
O sucesso promete se repetir. Quando ainda faltavam algumas semanas
para a mostra, diversas escolas já haviam se inscrito para
as visitas monitoradas. Como o objetivo é priorizar as escolas
públicas, até o final de setembro os agendamentos
foram feitos exclusivamente com essas escolas e, segundo Márcia,
até aquela data já havia cerca de mil alunos inscritos.
A mostra faz parte de um projeto maior do Departamento de Microbiologia,
que tem o objetivo de criar uma instituição semelhante
à Estação Ciência – centro de divulgação
científica da USP instalado no bairro da Lapa, em São
Paulo –, voltada para a área de microbiologia. A idéia
é transmitir noções dessa área do conhecimento
num espaço fora da Cidade Universitária, que permita
a realização de exposições maiores e
permanentes. Esse projeto tem o apoio financeiro da Pró-Reitoria
de Cultura e Extensão Universitária, inclusive com
estagiários do Programa Bolsa-Trabalho, e já ganhou
um edital para “divulgação de conhecimento”
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPQ). “Essa mostra serve também para que aprendamos
e ganhemos experiência para termos um museu de microbiologia
de alto nível. O País tem essa demanda e nós
estamos tentando fazer algo nesse sentido, mas para isso precisamos
de uma estrutura maior”, aponta Márcia
A 2ª Mostra de Microbiologia está aberta de
16 a 20 de outubro, das 9h às 12h e das 14h às
17h, no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB)
da USP (Edifício
Biomédicas III, avenida Professor Lineu Prestes, 2.415,
Cidade Universitária, em São Paulo). Visitas de
grupos escolares devem ser agendadas previamente pelo telefone
(11) 3091-7259.
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