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Voltar no tempo. Meio século. E reencontrar a arte brasileira em um dos momentos mais importantes de sua história. Com essa proposta, o Museu de Arte Moderna (MAM) reconstrói a “1ª Exposição Nacional de Arte Concreta”, organizada entre 4 e 8 de dezembro de 1956 pelo MAM na sua antiga sede da rua 7 de Abril, no centro de São Paulo. E apresenta, através das artes, uma época de intensa modernização no País, com a instalação da primeira indústria automobilística, a Volkswagem, o início do governo de Juscelino Kubitschek, lançando o projeto urbanístico de Brasília, a elegância da moda dos anos dourados e a força do futebol brasileiro, com seu uniforme canarinho.

Uma retrospectiva importante para repensar a trajetória política, social e cultural do País. E refletir também sobre o tema Como Viver Junto, da 27ª Bienal de São Paulo, o maior evento das Américas, que pretende atrair cerca de 30 mil estudantes das escolas de São Paulo para apreciar o trabalho de 118 artistas do Brasil, Afeganistão, Argentina, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Cuba, Eslovênia, África do Sul, Japão, China, Israel, Itália, Portugal, Espanha e Turquia, entre outros. Importante lembrar que a população encontra no Parque Ibirapuera lazer e arte de graça. A entrada para apreciar as exposições da Bienal e do MAM é franca.

Há 50 anos – Com curadoria de Lorenzo Mammi (artes), André Stolarshi (design) e João Bandeira (poesia), a mostra “Arte Concreta 56. A raiz da forma” exibe nas duas salas do museu obras de 26 artistas, entre eles 15 pintores, um desenhista, um gravurista e poetas, além de peças de 27 designers. “Esta mostra faz o diagnóstico do DNA da arte, da poesia e do design brasileiro, o que será elucidativo para as novas gerações”, explica Mammi. “O resgate dessa exposição histórica foi trabalhosa e levou meses para ser concluída. Inicialmente, a documentação sobre as obras expostas em 1956 era escassa: um convite com a lista dos artistas participantes, um encarte da edição 20 da revista Arquitetura e Decoração, com fotos da exposição e recortes de jornais.”

A meta dos curadores foi resgatar a mostra original. Através de 18 fotografias do arquivo do artista Hermelindo Fiaminghi, guardado pela família, os pesquisadores começaram a recompor a mostra. A exposição, no entanto, teve de ser integrada por algumas recriações, porque muitos trabalhos se perderam e outros não foram identificados. O curador explica que, em compensação, foram encontrados trabalhos fora do circuito de artes visuais há muitos anos, como os de Geraldo de Barros, Maurício Nogueira Lima, Franz Weissmann e Alexandre Wollner. Interessante ainda a presença do gaúcho Iberê Camargo, que não estava na exposição original, mas que é justificada por Mammi porque, no fim da década de 1950, o artista começa a pintar e gravar seus carretéis. “Nada mais estranho à estética concreta do que o individualismo anárquico de Iberê, já que a sua pincelada beira o caótico e desordenado. E, no entanto, essas formas seriais, sobretudo nas gravuras, não deixam de comentar a polêmica concreta, pelo menos para lembrar que, além da objetividade da razão e da experiência imediata do mundo, a memória também organiza as coisas em série. A síntese dos carretéis não seria possível se ele não tivesse na sua frente a proposta concreta.”

Na avaliação dos curadores, a exposição é contextualizada também em outro momento histórico peculiar. “Os meses imediatamente seguintes à exposição provocam mudanças importantes nas obras dos artistas. Por isso estamos exibindo obras posteriores. Muitos artistas adotaram condutas produtivas extremamente diferentes, como Volpi, que abandona a experiência concreta e volta à descrição artesanal do mundo.”

Mammi explica que a exposição marca ainda a polêmica que se travou, na época, entre a produção paulista e carioca, geradora de intensos debates em jornais, contribuindo para o desencadeamento do neoconcretismo e da teoria do não-objeto, formulada pelo crítico e poeta Ferreira Gullar. “Depois de 50 anos, mais do que tomar posição de um lado ou de outro, cabe compreender a importância que essa discussão teve para a maturação do ambiente artístico brasileiro. De fato, criou-se ali um campo de questões fundamentais para toda a arte brasileira posterior. Definiram-se os rumos e as alternativas possíveis, dando o tom do debate artístico da década seguinte – um tom, aliás, reconhecível até hoje em grande parte da produção brasileira, inclusive a mais afastada, aparentemente, da poética concreta.”

Entre os artistas estão também Ademar Manarini, German Lorca (fotografia), Amílcar de Castro, Kazmir Fejer (escultura), Aluísio Carvão, César Oiticica, Décio Vieira, Hércules Barsotti, Ivan Serpa, João José da Silva Costa, Judith Lauand, Lothar Charoux, Lygia Clark, Luis Sacilotto, Rubem Ludolf, Waldemar Cordeiro e Willys de Castro (pintura), Hélio Oiticica (pintura e fotografia) e Lygia Pape (xilogravura). As obras dos artistas são intercaladas pelos poemas de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Haroldo de Campos, Osmar Dilon, Ronaldo de Azeredo e Wladimir Dias Pino.

Na sala Paulo Figueiredo, o público pode apreciar cerca de 150 peças de diversos tipos, do design gráfico ao design de produtos, em um diálogo com a arquitetura. O curador Stolarski chama a atenção para os projetos de identidade, com ênfase para a produção de Alexandre Wollner e Rubens Martins, para as capas de discos criadas por Lygia Clark e para o mobiliário da empresa paulista Unilabor e do designer alemão, radicado no Brasil, Karl Heinz Bergmiller. “Os artistas concretos foram os responsáveis pela fundação de um novo modo de fazer e pensar o design no Brasil, conforme a racionalidade, a sistematização e a ordem. Assim como as artes plásticas, o design produzido no período, e enfocado na exposição, também perpetuou uma das heranças da produção atual.”

Nessa sala dos designers estão algumas das famosas cadeiras de Lina Bo Bardi e a mesa de centro feita em compensado de jacarandá dos arquitetos Jorge Zalszupin e Julio Roberto Katinsky. Há ainda os trabalhos de Alexandre Wollner, Athos Bulcão, Almir Mavignier, Aloísio Magalhães, Antonio Maluf, Decio Pignatari, Emilie Chamie, Estela Aronis, Fernando Lemos, Geraldo de Barros, Guilherme Cunha Lima, Gustavo Goebel Weyne, Hermelindo Fiaminghi, Ivan Serpa, Joaquim Tenreiro, Karl Heinz Bergmiller, Ludovico Martino, Luis Sacilotto, Lothar Charoux, Mary Vieira, Ruben Martins, Waldemar Cordeiro e Willys de Castro.


MAM na OCA

fotos: Cecília Bastos

A história dos 50 anos do Museu de Arte Moderna (MAM) está sendo contada através da exposição “MAM na Oca”. Sob a curadoria de Tadeu Chiarelli, Felipe Chaimovich e Cauê Alves, reúne cerca de 700 das 4.500 obras da coleção atual do museu. A proposta não é fazer uma retrospectiva em ordem cronológica das obras do acervo, mas propiciar novas possibilidades de interpretação e questionamento da arte brasileira moderna
e contemporânea.

Com o planejamento espacial dos arquitetos Daniela Thomas e Felipe Tassara, as obras se apresentam ao público em uma disposição que instiga a reflexão sobre a importância da arte no cotidiano. No térreo, o tema central é Cidade, polemizado através de 285 obras. “É interessante fazer essa reflexão dentro da Oca, construída por Oscar Niemeyer, e do próprio Parque do Ibirapuera, que foi um presente do governo pelo Quarto Centenário da cidade de São Paulo”, diz Cauê Alves.

fotos: Cecília Bastos

Logo na entrada, há uma série de fotos do final dos anos 40, assinadas por Geraldo de Barros, Thomas Farkas e German Lorca, sobre a construção de Brasília. As imagens são relacionadas com outras mais recentes, como as da posse do presidente Lula, de autoria de Mauro Restiffe.

Há também a participação de artistas que discutem a utopia urbana, como Fabiano Marques, e também outros, como Antonio Henrique Amaral, em uma crítica da realidade política e social. Estão presentes também os construtivistas Hércules Barsotti, Amilcar de Castro e Lígia Clark; Daniel Acosta, Ana Tavares, Cildo Meireles, Lívio Abramo, Anatol Wladyslaw, Paulo Monteiro e
Mira Schendel.

No primeiro andar, as 240 obras refletem os sentidos da arte moderna e os questionamentos da própria obra. Interessante é a ligação com a proposta do andar térreo, feita através dos pôsteres de Almir Mavignier, que misturam a imagem de Brasília com palavras e signos em uma relação entre arte e escrita. Entre os núcleos, há a discussão sobre o período da ditadura militar em diversas obras, como na instalação recente de Marcelo do Campo, que apresenta uma mulher sendo estapeada, simulando um vídeo produzido nos anos de chumbo.

No segundo andar, na cúpula do edifício da Oca, o MAM apresenta uma síntese da sua própria identidade. Ou seja, assumir os riscos do futuro, apostando em novos artistas e nos desafios por eles lançados, como Pazé, que chama a atenção do público com um boneco de resina plástica com cabelos compridos, jeans e tênis, que fica no alto de um muro (obra Transeunte, de 2001). Há ainda João Loureiro, com o seu Quarto dos troncos, de 2005, e O telhado, de 1998, construído no chão por Marepe, convidando o público a ver e descobrir a arte na própria casa, no próprio espaço.

As exposições “MAM na OCA” (Pavilhão Lucas Nogueira Garcez) e “Arte Concreta 56. A raiz da forma” (prédio do MAM, na Grande Sala e Sala Paulo Figueiredo) podem ser vistas até 3 e 10 de dezembro, respectivamente, no Parque do Ibirapuera, s/nº, portão 3, de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. Mais informações pelo telefone (11) 5549-9688. Entrada e estacionamento gratuitos.

 

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