Araraquara, Bauru, Barra Bonita, Brotas e São Carlos foram
alguns dos 34 municípios atendidos pelo projeto Educando
Sobre as águas, uma iniciativa do Centro de Pesquisa em Óptica
e Fotônica (Cepof) do Instituto de Física de São
Carlos (IFSC) da USP, em parceria com a organização
não-governamental Mãe Natureza, de Barra Bonita.
Para visitar 278 escolas da região, um ônibus foi
equipado com maquetes expositivas sobre os diferentes aspectos
do uso dos recursos hídricos, como a físico-química
das águas, as espécies de peixes dos rios, o mundo
microscópico, o ciclo das águas e os tipos de solos,
para servir de material didático para a educação
ambiental. “Nossa intenção foi levar aos alunos
e professores a importância dos rios para a qualidade de
vida de todos os indivíduos e para que todos entendessem
como tirar bom proveito desses recursos hídricos sem destruí-los”,
observa Vanderley Bagnato, coordenador do Cepof. “Foram conscientizados
250 mil professores e alunos sobre prevenção da poluição
e a degradação dos corpos d’água e aprendizado
do uso sustentável dos recursos hídricos da bacia
Tietê-Jacaré.”
O projeto foi composto por dois programas. Um deles propôs
a exposição itinerante feita pela unidade móvel,
que foi às escolas contando com um biólogo monitor,
que passava as informações sobre as maquetes. O outro
programa foi um curso de gestão de recursos hídricos
para professores, que aconteceu em Barra Bonita, no Memorial do
Rio Tietê, sede da ONG Mãe Natureza. Durante os finais
de semana, grupos de professores eram recebidos no local para,
no primeiro dia, participar de palestras e, no segundo, embarcar
no Anhangüera, barco da Marinha do Brasil, fazendo atividades
práticas sobre a mata ciliar, a qualidade da água,
visualização da situação atual do rio
e as interferências do homem.
Com financiamento da Petrobras Ambiental e do Fundo Estadual
de Recursos Hídricos, todo o projeto foi gratuito e ofereceu
aos participantes cartilhas, CDs e boletim técnico sobre
a preservação e o gerenciamento dos recursos hídricos.
Também propôs campanhas de esclarecimento à opinião
pública e fez mutirões de limpeza.
Com uma área de 11.749 km2, a bacia hidrográfica
Tietê-Jacaré é formada por 34 municípios
e possui muitas indústrias no seu entorno, abrigando mais
de 1,3 milhão de habitantes. Segundo o engenheiro agrônomo
Glauber José de Castro Gava, um diagnóstico concluiu
que o rio se encontra em situação crítica
em termos de disponibilidade hídrica superficial, apresentando
demandas elevadas, devido à irrigação e ao
setor sucroalcooleiro. ”Dos 34 municípios, 19 deles
se encontram com índice de perdas no sistema de abastecimento
de água acima de 30%. Há riscos de rebaixamento acentuado
da superfície do lençol subterrâneo nas áreas
urbanas de Bauru e Araraquara, além de áreas críticas
de poluição das águas subterrâneas,
na região de Bauru, Araraquara, Brotas e arredores”,
revela.
Para Gava, também pesquisador da Agência Paulista
de Tecnologia do Agronegócio e doutorando do Centro de Energia
Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, o intuito
do projeto foi promover a implementação de processos
por meio dos quais os indivíduos e a coletividade possam
construir valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes
e competências voltadas para a conservação
do ambiente.
Rita de Cássia Baffa Gonçalves, diretora da Escola
Estadual Edésio Castanho, em Ibaté, por onde o ônibus
passou, acredita que projetos desse gênero permitem um melhor
conhecimento do ambiente pela comunidade escolar. “Essa exposição
auxilia o professor na inserção de alguns conceitos
desenvolvidos no tema transversal ambiente. Sugere atividades para
encaminhamento de projetos. Dentro do processo de conhecimento
dos alunos, vários enfoques foram dados à água.
Ora apresentada como fonte de vida, ora por ser um recurso esgotável,
o desperdício e o mau uso a tornarão um recurso raro.”
Motivação – Cada escola agenda a visita e o ônibus
leva a exposição itinerante, com vários temas
voltados para a água. Painéis eletrônicos permitem
que os estudantes façam associações entre
perguntas e respostas, como a construção de uma mini-hidrelétrica,
mostrando o princípio de geração da energia
elétrica. “Também alertamos para os principais
detritos jogados no rio pela população, o que causa
sua destruição”, explica Bagnato.
Para Maria Avelina Cellurale, diretora da Escola Estadual Professor
Archimedes Aristeu Mendes de Carvalho, de São Carlos, a
visita foi uma oportunidade para os alunos vivenciarem conteúdos
trabalhados em sala de aula. “A exposição é extremamente
enriquecedora, além de sensibilizá-los em relação à natureza
e à ciência.”
O agrônomo Glauber Gava ressalta que, na educação
contemporânea, há falta de motivação
e de envolvimento dos alunos nos processos de aprendizagem. Portanto,
há uma necessidade de metodologias de ensino e aprendizagem
que motivem professores a ensinar e alunos a aprender. “Com
o projeto, investigamos a maneira pela qual o professor vê a
possibilidade de usar o tema transversal ambiente no ensino de
ciências, associado às aulas de campo em ambientes
naturais. Queremos gerar uma metodologia de ensino como ferramenta
complementar, para que os professores sintam segurança,
prazer e motivação na atividade de educação
em ciências”, reflete.
Ao fazer um balanço do potencial do empreendimento, Gava
mostra que o projeto cumpriu sua missão. “Geralmente
essa questão da gestão dos recursos hídricos
nunca é abordada na formação de um aluno.
Por exemplo, é muito difícil encontrar quem tenha
conhecimento sobre o que é uma bacia hidrográfica,
o que é uma estação de tratamento de água
e esgoto. Ao levarmos esse conhecimento aos alunos, estamos possibilitando
que, num futuro próximo, eles possam cobrar uma gestão
mais correta dos recursos hídricos de maneira sustentável
e fazer um uso mais consciente da água”, ressalta.
Em Ribeirão Bonito, a diretora Denise Veiga de Castro,
da Escola de Educação Infantil Vovó Sophia,
se empolga com a proposta do projeto. “Sempre ouvimos falar
muito em ‘Salvem o verde’, ‘SOS natureza’, ‘Se
não cuidar vai acabar’ e tantas outras frases divulgadas
pela mídia, mas uma ação efetiva de conscientização
se faz necessária, pois só se aprende vivenciando,
tendo significado para a vida. Assim, esse projeto é de
suma importância e deve continuar a atingir um maior número
de cidades.”
Bagnato confirma a continuação do projeto, que pretende
se tornar, na próxima etapa, um cinema itinerante, para
levar documentários sobre as águas para as escolas
da região de São Carlos. Outra proposta é transformar
os conteúdos da exposição do ônibus
em kits educativos, que poderão ser emprestados por períodos
determinados, fazendo o papel de um laboratório ambulante
para ajudar o professor na sala de aula.
Para garantir a qualidade e a disponibilidade dos recursos hídricos,
de acordo com Gava, é fundamental a participação
efetiva de todos os segmentos da sociedade e, mais do que isso,
formar uma nova percepção nas pessoas, para que entendam
que esses recursos são esgotáveis. “Se algo
não for feito para melhorar o gerenciamento da água
e proteção dos corpos d’água, teremos
problemas sérios no futuro.”
Mais informações podem ser obtidas na página
eletrônica da ONG Mãe Natureza.
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