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créditos: Cecília Bastos

Durante três dias, de 8 a 10 de novembro, o 14o Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (Siicusp) expôs mais de 4.500 trabalhos de iniciação científica e desenvolvimento tecnológico realizados por alunos de graduação de todo o Brasil, em várias áreas do conhecimento, como agropecuária, ciências biológicas, engenharias e humanidades. O evento ocorreu nos campi da USP em São Paulo, Ribeirão Preto e Piracicaba.

Além das sessões de pôsteres para a exposição e discussão dos trabalhos, o evento foi marcado por atividades paralelas, como visitas guiadas a laboratórios e instalações de interesse científico e tecnológico. Segundo Marcelo Carreño, presidente da comissão executiva do 14o Siicusp, o objetivo dessas visitas foi expandir os conhecimentos técnicos, despertar e estimular a inquietude nos participantes, além de ser uma excelente oportunidade de conhecer novos espaços e interagir pessoalmente com diversos companheiros de pesquisa espalhados pelo Brasil. Só a área de engenharia e exatas teve 938 trabalhos apresentados, sendo 56% da USP e 44% de outras universidades.

Computação – Evandro Augusto Maruci e Luigi Giacometti de Oliveira, alunos do 4o ano de Ciência da Computação da Unesp, foram dois estudantes que tiveram seus trabalhos aprovados. Segundo Maruci, sua pesquisa utiliza uma ferramenta, o Paradin, que faz a análise de desempenho de programas paralelos. Essa ferramenta identifica o que é uma função gargalo. “O nosso avanço foi identificar um gargalo dentro da função e investigar as técnicas de otimização que podem ser aplicadas nesse contexto”, diz Maruci, que apresentou o trabalho “Investigando a otimização automática de códigos através do Paradin”.

Um gargalo é quando uma determinada função de um programa demanda um tempo muito extenso para ser executado. A ferramenta utilizada pelo estudante consegue identificar essa função. “Nosso estudo é válido porque, na informática, existe uma série de programas paralelos que executam um cluster computacional, ou seja, programas pesados. Em um sistema de meteorologia para previsão de tempo, por exemplo, não dá para prever o tempo numa máquina muito simples porque o resultado não vai ser viável. Ao executarmos um software paralelo conseguimos identificar o que seria gargalo nesse programa, facilitando o avanço da tarefa.”

créditos: Cecília Bastos
O simpósio reuniu nos campi da USP milhares de estudantes de várias universidades do Brasil: evento é uma forma de introduzir o aluno de graduação no mundo da pesquisa científica

Já Luigi Giacometti de Oliveira – autor de “A implementação de um gerenciador de submissão de tarefas e um cluster educacional” – explica que um cluster é um conjunto de máquinas ligadas numa mesma rede, trabalhando conjuntamente. “Ou seja, você tem um programa que pode ser executado em dez máquinas ao mesmo tempo, reduzindo bastante o tempo dessa tarefa. Nosso estudo procura gerenciar as tarefas que são submetidas para executarem esse cluster.” Oliveira ressalta ainda que uma coisa importante na execução dessas tarefas é que elas sejam serializadas, executadas por vez. “A ferramenta que desenvolvemos serializa a execução das tarefas, permitindo a execução de uma por vez. Também apresenta outras funcionalidades, como gerenciamento de sistemas de arquivos, enviando uma notificação via correio eletrônico para mostrar que a tarefa terminou de ser executada. Essas são as três principais utilidades da ferramenta.”

Agropecuária – Na área de agropecuária, o Siicusp contou com trabalhos inscritos nas áreas de economia e sociologia rural, produção vegetal, ciências florestais, ciência e tecnologia agroindustrial, solos, fitossanidade, engenharia rural, veterinária e zootecnia. Essas pesquisas foram apresentadas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.

Quatro alunas da Esalq – Juliana Pizarro Silva, Maria Chantal Teitebaum, Natalia Mantonvani de Oliveira e Lucimere Pilon – apresentaram um trabalho que procura compreender qual a melhor maneira de processar o abacaxi descascado para a venda. Segundo as alunas, o hábito alimentar do brasileiro tem apresentado mudanças consideráveis nas últimas décadas. A tendência crescente hoje são os alimentos minimamente processados, que se destacam como uma tecnologia utilizada para agregar valor às frutas e hortaliças e reduzir as perdas pós-colheita. “Nosso objetivo foi a obtenção de abacaxi como alimento tipo conveniência, submetido ao processamento mínimo e armazenamento refrigerado, combinado com tratamentos químicos à base de cloreto de cálcio e ácido ascórbico. Concluímos que o tratamento com cloreto de cálcio apresentou os melhores resultados, mostrando-se mais efetivo na qualidade do abacaxi minimamente processado.”

Outro trabalho apresentado na Esalq trata de gado leiteiro. Foi feito por Luis Fernando Polesi e Afrânio Márcio Corrêa Vieira. Segundo os alunos, é comum encontrar, no Brasil, proprietários que coletam dejetos produzidos pelas atividades ligadas à bovinocultura e os aplicam diretamente no campo. Uma grande produção de dejetos aplicados em uma pequena área pode ultrapassar em muito a capacidade do solo e das plantas de absorvê-los. Portanto, essa prática deixa de ser uma fertilização para ser um descarte. O trabalho dos alunos da Esalq teve por objetivo avaliar e caracterizar as propriedades químicas desses dejetos e do solo irrigado com eles. “Concluímos que o efluente da bovinocultura leiteira apresentou cobre e ferro em níveis elevados, mas a aplicação dessa água residuária não ocasionou contaminação do solo por excesso de nutrientes ou metais pesados analisados.”

Na área de humanas, o trabalho “Produção de documentário na TV Cultura”, de autoria de Lia Kulakauska Sá Freitas, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, teve como objetivo estudar o gênero documental, suas especificidades e sua relação de exibição com a televisão pública, daí a escolha da TV Cultura. “A pesquisa é relevante por tentar perceber e estabelecer uma sistematização da produção da TV Cultura no período que compreende sua fundação, em 1968, até 2004”, explica Lia.

Lia aponta como conclusões parciais a não-linearidade da produção, principalmente da independente, veiculada pela TV Cultura. As relações estabelecidas com produtores independentes são dadas de maneira dispersa em suas origens. Ao mesmo tempo, a produção própria parece passar por picos e vales reincidentes com relação à liberdade dada aos realizadores.

créditos: Cecília Bastos

Treinamento – Para a professora Maria Angélica Miglino, presidente do Programa de Iniciação Científica da USP, embora os trabalhos inscritos tenham se mantido na média, o ponto alto do simpósio é a sua avaliação. “Cada comissão avaliou dez trabalhos no máximo. Isso proporcionou discussões frutíferas, dando aos alunos canais de participação efetiva.”

Maria Angélica enfatiza que o foco da produção científica na USP está voltado para o treinamento e a convivência com o método científico, podendo gerar algum tipo de pesquisa. “Não pensamos apenas na publicação do trabalho.”

Com a presença maciça dos estudantes nas atividades paralelas e nas discussões e apresentações, Maria Angélica ressalta que o simpósio cumpriu o seu objetivo, que é a promoção, discussão e avaliação de trabalhos feitos por alunos. “Atualmente, o encontro é respeitado dentro e fora da Universidade como um evento de referência na área de iniciação científica, concluiu.

 


 

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