Quando participou da campanha
eleitoral para a Reitoria da USP, no ano passado, a professora
Suely Vilela falou seguidamente sobre a necessidade de desburocratizar
a gestão
da Universidade, simplificando e acelerando os seus procedimentos.
Há um ano no cargo, a reitora afirma que uma das demandas
que mais recebe da comunidade acadêmica vai justamente nessa
direção. “Todo dia eu ouço: ‘Professora,
meu processo está demorando, o que vamos fazer?’.
Muitas vezes nós queremos conduzir as ações
numa determinada velocidade e isso não acontece”,
diz. É exatamente o reconhecimento dessa realidade, que
não raro emperra o andamento das atividades e provoca insatisfação
no meio universitário, que levou a Reitoria a investir num
novo Programa de Gestão Estratégica e Desburocratização
na Administração da USP.
O lançamento do programa ocorre nesta segunda-feira (27), às
15h, no Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária.
Para a solenidade, é esperada a presença dos principais
dirigentes da USP e de suas unidades, como chefes de departamentos,
presidentes de comissões acadêmicas e assistentes
de direção. O palestrante do evento será Paulo
Daniel Barreto Lima, diretor do Departamento de Programas e Gestão
do Ministério do Planejamento. Barreto Lima é também
gerente-executivo do Programa Nacional de Gestão Pública
e Desburocratização (Gespública), instituído
por decreto federal em fevereiro de 2005.
O Gespública é a referência com a qual a USP
vai trabalhar para implementar o seu processo, adaptando o modelo às
especificidades de sua realidade como instituição
acadêmica. O programa do governo federal oferece suporte
e assessoria para sua aplicação, que se dá em
vários ciclos e envolve cursos, seminários, palestras
e formação de agentes multiplicadores. A finalidade
do Gespública, de acordo com o Ministério do Planejamento, é “contribuir
para a melhoria da qualidade dos serviços públicos
prestados aos cidadãos e para o aumento da competitividade
do País”. Para isso, utiliza sete critérios
integrados e relacionados: liderança; estratégia
e planos; cidadãos e sociedade; informação
e conhecimento; pessoas; processos e resultados.
“Temos ainda um decreto de 1995, do então governador
Mário Covas, que institui o Programa de Qualidade e Produtividade
e também cria formas de avançar e conseguir qualidade
nos resultados através da gestão estratégica”,
diz a reitora Suely Vilela. “Não conhecia a fundo
o Gespública, mas fiquei feliz de ver que minha visão
acadêmica coincidia com essa visão da necessidade
de gestão e desburocratização.” Uma
das primeiras ações já está prevista:
será a realização de um curso para agentes
multiplicadores, a ser ministrado para 40 servidores da Reitoria – que,
com isso, espera dar o exemplo para a adesão da comunidade
ao processo. Convênios – Para levar a cabo o novo programa, será criada
uma Comissão de Gestão Estratégica e Desburocratização,
cujo comando ficará a cargo da professora Maria de Lourdes
Pires Bianchi, diretora do Departamento de Recursos Humanos da
USP. Cada unidade deverá criar sua comissão, possibilitando
o envolvimento ativo de docentes e servidores no processo. “São
várias as instâncias que devem dividir as responsabilidades”,
diz a reitora. “Acredito que teremos uma receptividade muito
boa da comunidade exatamente porque estaremos atendendo a uma demanda
sua, e ao mesmo tempo trabalhando com a questão da qualidade.” Para
Suely Vilela, somente com a gestão estratégica – que
envolve o domínio dos procedimentos e sua avaliação
para implantação das melhorias identificadas como
necessárias – são obtidos resultados com qualidade.
“O sucesso de qualquer administração passa
necessariamente pela gestão. Esse é o nosso foco.
Queremos a gestão por resultados, e vamos olhar todos os
nossos processos e procedimentos internos”, explica a reitora.
Alguns passos já têm sido dados nessa direção,
de acordo com Suely Vilela. Entre os procedimentos já simplificados,
está o gerenciamento dos convênios da Universidade,
que antes passavam por vários setores e às vezes “se
perdiam” nos meandros burocráticos. Na nova estrutura,
todas as etapas serão realizadas numa só instância,
que inclusive irá ocupar um mesmo espaço físico.
Outro exemplo é a gestão dos serviços terceirizados,
que, segundo a reitora, foi causa de muitos problemas nos seus
primeiros meses no cargo e agora tem um acompanhamento eficiente. “Desburocratizar
significa simplificar procedimentos e eliminar algumas etapas de
nossas rotinas para que tenhamos resultados efetivos”, considera. “Temos
excelentes servidores, mas às vezes faltam agregação
e simplificação de processos.” Cultura
organizacional – O Programa de Gestão Estratégica
e Desburocratização soma-se a outros que têm
procurado fazer o diagnóstico da realidade da Universidade
e encaminhar soluções para os problemas eventualmente
encontrados. Na área acadêmica, o processo é comandado
pela Comissão Permanente de Avaliação (CPA),
cuja coordenação está a cargo do vice-reitor,
professor Franco Lajolo. “Já temos esse retrato da
atividade-fim, que é feito pela CPA, mas ainda não
tínhamos o da atividade-meio, que é a administração.
Vamos agora trabalhar exatamente com ela, que é essencial
para o sucesso da atividade-fim”, afirma a reitora.
Também será instituída, pela primeira vez,
a Comissão de Planejamento (CP), que tem suas funções
descritas no artigo 33 do Regimento Geral da USP, mas não
havia sido implementada até aqui. A essa comissão
cabe, entre outras atribuições, “assessorar
a Reitoria e as Pró-Reitorias no planejamento, programação
e desenvolvimento das atividades universitárias” e “elaborar
e propor planos estratégicos de desenvolvimento da Universidade,
a médio e longo prazo”. A CP terá coordenação
do professor Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física
de São Carlos.
A reitora Suely Vilela tem consciência de que o desafio colocado à sua
frente é grande – pois envolve uma mudança
de cultura, o que nunca é fácil de obter em qualquer
instituição – e será um trabalho de
longo prazo. Entretanto, espera contar com a colaboração
de toda a comunidade uspiana para implementar medidas que simplificarão
o cotidiano das pessoas envolvidas com a Universidade. “Não
quero ter um programa apenas para os quatro anos da minha gestão.
Um dos legados que gostaria de deixar é exatamente provocar
uma mudança de cultura organizacional, implementando um
modelo de excelência em gestão universitária”,
conclui. |