Mesa de abertura, com a reitora (ao centro): perspectivas tecnológicas
O Seminário Impactos e Tendências
da TV Digital no Brasil – realizado no último dia
23, na Escola Politécnica – reuniu importantes especialistas
da área para discutir a implantação do Sistema
Brasileiro de Televisão Digital (SBTV), interatividade,
programação, marcos regulatórios, inclusão
social e digital e acesso público. O evento foi promovido
pela Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), Coordenadoria
de Tecnologia da Informação (CTI), ambas da USP,
e Portal Universia.
Na mesa de abertura, o professor Wanderley
Messias da Costa, coordenador da CCS, afirmou que a Coordenadoria
está iniciando um novo
trabalho ao propor debates que possibilitem ao público externo
discutir com a Universidade temas de abrangência internacional,
com a intenção de aprofundar as relações
de inovação da academia com as empresas. “A
Universidade está propondo um embrião que faz com
que a TV digital brasileira sirva para o avanço da ciência,
tecnologia e também para o desenvolvimento da educação.”
Jorge da Cunha Lima, presidente do Conselho
Curador da Fundação
Padre Anchieta/TV Cultura, lembrou que a história da TV
digital no Brasil mal começou. “Na primeira fase passamos
pela definição do sistema. Agora, estamos na fase
da implementação, que não pode se transformar
numa luta entre telefonia e televisões comerciais.”
Para ele, a luta pela implantação do sistema digital
brasileiro tem que se pautar pela multiprogramação
e quem terá abertura para isso serão as televisões
públicas. “Queremos falar com todos os segmentos da
sociedade.” Lima ressalta a importância de se criar
parcerias com as universidades, que serão as “usinas
de produção de conhecimento” no setor.
Segundo o professor Marcelo Knorich Zuffo,
do Laboratório
de Sistema Integráveis (LSI) da Poli, existem três
desafios técnicos importantes a ser vencidos: o legado técnico,
o repúdio e a fragmentação. “Temos que
tomar cuidado para não nos isolarmos do padrão mundial
e criarmos uma bolha tecnológica, como foi o caso da Itália”,
reflete.
A professora Teresa Cristina Melo de Brito
Carvalho, diretora do Centro de Computação Eletrônica (CCE) da USP,
explicou a diferença e confusão que se faz entre
IPTV e vídeo na internet. Segundo ela, são dois assuntos
bem diferentes que precisam ser esclarecidos: IPTV (Internet Protocol
Television) é o sistema que transporta streams de vídeo
encapsulados sobre o protocolo IP. Para a professora, a internet
não está pronta para transmitir sinais da televisão.
Faltam qualidade, disponibilidade, confiabilidade e acessibilidade. “Não
temos tecnologia de multicast e backbone, ou seja, infraestrutura
de rede que suporte altas taxas de transmissão”, explicou.
Para ela, a internet precisa de mecanismos
de transmissão
de vídeo, não tem disponibilidade e não é escalável. “Com
isso não conseguimos ter acesso à televisão
se não fizermos primeiramente o download do programa. O
acesso não é direto como na televisão atual.
Falta muito ainda para a internet chegar a esse nível.”
O professor Almir Almas, da Escola de
Comunicações
e Artes (ECA) da USP, complementou afirmando que o ponto mais importante
da discussão é questionar o acesso público. “Precisamos
pensar num legado para o futuro. O que pretendemos daqui a dez
anos com a nossa televisão digital?” Outra questão
levantada por ele é sobre o canal de retorno que precisa
ser pago: “Quem fará isso? Os telespectadores? O governo?”,
questionou.
Já para o jornalista Gabriel Priolli, presidente da Associação
Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), é preciso
ter como missão política a luta por uma televisão
interativa plena e permanente. “Só assim é que
a televisão passará a promover a educação,
a cidadania e o diálogo com o espectador, a partir de uma
produção de conteúdos não centralizadora”,
analisou.
Priolli anunciou o lançamento da Rede de Intercâmbio
de Televisão Universitária (Ritu), em fevereiro de
2007, que integrará 52 canais universitários em operação
em todo o Brasil. Planejada inicialmente para ser apenas uma rede
de troca de programas entre emissoras de TV universitárias,
a Ritu busca também integrar as “grades” de
programação das instituições de ensino
superior que transmitem informação e cultura nas
tecnologias de televisão disponíveis.
Educação – A segunda parte do debate – realizada
na tarde do dia 23 – focou a contribuição que
a TV digital pode trazer para o desenvolvimento da educação. “Queremos
expor as possibilidades que a TV digital oferece para realizar
o nosso desejo de levar a educação para todos”,
afirmou Pedro Ortiz, diretor da TV USP e diretor-geral do Canal
Universitário de São Paulo, pioneiro no Brasil.
A pesquisadora do Laboratório de Engenharia de Sistemas
Integráveis da Escola Politécnica da USP Roseli de
Deus Lopes iniciou o seminário alertando para o grande atraso
do cenário da educação no Brasil. Segundo
ela, as salas de aula brasileiras ainda seguem o “modelo
catastrófico do milênio passado”. “A criança
tem que querer aprender e não só ficar sentada, quieta,
ouvindo a professora falar”, completou.
Para mudar esse cenário, ela aponta a necessidade de um
grande investimento em tecnologia e principalmente da oferta, acessível
a todos, de conectividade à internet de banda larga. Segundo
Roseli, a internet já se tornou tão essencial quanto
energia elétrica nas residências brasileiras. “Precisamos
entrar em um processo pró-ativo, entender quais são
as nossas necessidades e encontrar soluções para
elas e não esperar que alguém desenvolva alguma coisa
no exterior e torcer para que resolva para nós também”,
disse.
A TV digital só tem a acrescentar à educação
brasileira. Roseli apontou inúmeras possibilidades com a
transmissão de conteúdos educativos e interativos
com os quais, através de um canal de retorno como o telefone
ou a internet, a população é instigada a participar
da ciência. “Além disso, a TV digital oferece
a possibilidade de transmissão de uma série de canais
que podem ser focados para atrair públicos específicos.”
Há alguns anos, o Laboratório de Controle Ambiental,
Higiene e Segurança da Escola Politécnica desenvolve
cursos de especialização para engenheiros e técnicos
de todo o País e do exterior através do sistema de
educação a distância (EAD). Os alunos recebem
o material didático pelo correio e acessam material extra,
fóruns de discussão e uma série de ferramentas
pela internet, como os laboratórios virtuais que simulam
as situações que vivenciarão na realidade. “A
interação dos alunos com os materiais digitais é tão
fantástica que estamos usando-os inclusive nas aulas presenciais
da Poli”, explicou Sérgio Médici de Eston,
coordenador do laboratório.
Outra bem-sucedida experiência em EAD foi apresentada pelo
professor Chao Lung Wen, responsável pelo Projeto de Telemedicina
da Faculdade de Medicina da USP. Com o conceito de que educação é resultado
da interação entre professor, aluno e material didático,
o projeto une todo o complexo do Hospital das Clínicas em
uma Rede de Educação e Pesquisa, que permite ampliar
os limites da sala de aula e criar um novo nível de interação
a distância entre professores e alunos.
Esse método solucionou também uma delicada situação
nos hospitais universitários, a exposição
dos pacientes. Com a telemedicina, o médico atende o paciente
em seu consultório e os alunos o acompanham de um auditório. “É uma
grande conquista para nós. A humanização da
medicina, uma forma de respeito aos pacientes, que sentem que sua
privacidade está sendo respeitada, sem aquele cerco de alunos
os observando”, afirmou Wen.
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