A Febem (Fundação Estadual
do Bem-Estar do Menor) é um modelo falido, em que os adolescentes
infratores vivem sob um regime prisional guardado por agentes penitenciários,
são submetidos a torturas e maus tratos e não têm
chances reais de se recuperar. Em lugar desses “campos de
concentração”, é preciso que o Estado
tenha “vontade política” e invista seriamente
num novo modelo de reeducação de menores, formado
por unidades pequenas – de no máximo 40 internos – e
com equipes de pedagogos, que seriam responsáveis por práticas
pedagógicas voltadas para a inclusão dos adolescentes
na sociedade.
Essa proposta é da presidente da
Associação
de Mães e Amigos da Criança e do Adolescente em Risco
(Amar), Maria da Conceição Andrade Paganele Santos,
vencedora – na categoria Individual – do 7º Prêmio
USP de Direitos Humanos, que será entregue nesta segunda-feira,
dia 11, às 17 horas, na Sala do Conselho Universitário
da USP, com a presença da reitora Suely Vilela. Na categoria
Institucional, a vencedora foi a Sociedade Paraense de Defesa dos
Direitos Humanos (SDDH), de Belém, no Pará. Serão
concedidas também duas Menções Honrosas: uma
para o padre Júlio Lancellotti e outra para o Instituto
Ayrton Senna.
Abertas inscrições
para o
8º prêmio
A Comissão de Direitos Humanos da USP anunciou que
já estão abertas as inscrições
para o 8º Prêmio USP de Direitos Humanos, que
será entregue
em dezembro de 2007. Podem ser indicados – ou se autocandidatar – pessoas
e instituições que tenham relevantes serviços
prestados ao País na área da defesa dos direitos
humanos. Informações sobre as inscrições
podem ser obtidas na página
eletrônica da comissão. |
Nascida em Conde, na Bahia, em 1955, Maria
da Conceição
chegou a São Paulo em 1977. Viúva, mãe de
seis filhos, ela viu seu caçula se envolver com drogas e
ser internado na Febem em 1998. Desde a primeira visita ao filho,
percebeu que tinha uma tarefa a cumprir – livrar os adolescentes
dos espancamentos e amparar suas famílias. “Vi que
aquilo não era o que o meu filho precisava.” Logo
se tornou uma líder popular, engajada na luta contra as
violações dos direitos dos meninos e meninas infratores.
Essa luta já lhe rendeu várias honrarias, entre elas
o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, do governo federal. A Amar, fundada em 1998 por um grupo de
mães lideradas por
Maria da Conceição, está presente hoje em
seis Estados. Em São Paulo, a sede da associação
fica no 13o andar da rua Pedro Américo, 32, no centro da
capital. “Mesmo após a saída de seu filho da
Febem, em 2000, Maria da Conceição continuou a atuar
e a presidir a Amar”, justificou a Comissão de Direitos
Humanos da USP. “Hoje as ações da Amar incluem
a fiscalização e denúncias de irregularidades
cometidas no âmbito da Febem, além de trabalhos relacionados à divulgação
e conscientização do Estatuto da Criança e
do Adolescente.” Crimes ambientais – A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos
Humanos luta pelos mesmos princípios defendidos por Maria
da Conceição. Fundada em 1977, ela se tornou conhecida
por combater as sistemáticas violações dos
direitos humanos no Pará. A presidente da SDDH, a advogada
Vera Lúcia Marques Tavares, considera que a conquista do
prêmio, além de um importante reconhecimento pelo
trabalho realizado, é “um estímulo” para
a instituição continuar a tarefa de defender a dignidade
do cidadão no Estado. Ela cita, entre as principais violações
ocorridas no Pará, os conflitos agrários, o trabalho
escravo e os crimes ambientais, como o desmatamento ilegal. “É preciso
uma articulação de políticas e órgãos
públicos para resolver esses problemas’’, disse
a presidente ao Jornal da USP, por telefone, de Belém.
Vera, que deverá estar em São Paulo para receber
o prêmio nesta segunda-feira, dia 11, pensa em levar mais
coisas da USP além da honraria. Ela acredita que a SDDH
pode fazer parcerias com a Universidade, a fim de obter ajuda para
a formação de agentes de direitos humanos, por exemplo.
A presidente quer ainda estreitar relações com o
Núcleo de Estudos da Violência (NEV). “O núcleo
pode ser muito importante para dar maior repercussão, no
Sudeste, das violações que ocorrem aqui no Pará.”
Ao justificar a entrega do prêmio, a Comissão de Direitos
Humanos da USP destacou que a atuação da SDDH se
desenvolve através de ações desenvolvidas
por seus vários setores, como o Departamento Jurídico,
que intervém em casos exemplares de violação
de direitos humanos, o Núcleo Marabá (que presta
acompanhamento jurídico a vítimas de violência
no campo e violência institucionalizada) e o Banco de Dados
sobre Violência/Homicídios, entre outros departamentos.
Neste ano, quase cem pessoas e instituições concorreram
ao 7º Prêmio USP de Direitos Humanos. A presidente da
Comissão
de Direitos Humanos da USP, professora Maria Luiza Marcílio,
destaca que o prêmio, criado em 2000, tem cumprido “plenamente” seus
objetivos, na medida em que dá visibilidade a pessoas e
instituições que lutam contra a opressão no
Brasil e, dessa forma, promove a expansão dos ideais de
justiça. “É muito importante tornar conhecidos
esses exemplos, numa sociedade marcada pela violação
em todos os sentidos, inclusive o ambiental”, afirma Maria
Luiza.
A escolha dos vencedores do 7º Prêmio USP de Direitos
Humanos foi feita por uma comissão nomeada pela reitora
Suely Vilela, formada pelo professor Ruy Laurenti, da Faculdade
de Saúde
Pública da USP, professora Rosa Esther Rossini, do Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH), também da USP, professor Eduardo Cruz,
do curso de Ciências da Religião da Pontifícia
Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e o estudante
Alfredo Roberto, do Departamento de História da FFLCH.
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