Para discutir os resultados de pesquisas sobre mudanças
climáticas e analisar as estratégias empresariais
para a redução de gases do efeito estufa, foi realizado
no dia 14, na Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade (FEA) da USP, o seminário Mudanças
Climáticas e Estratégias Empresariais.
O professor da FEA e ex-reitor da USP Jacques Marcovitch abriu
o seminário afirmando que quer promover nos jovens novas
idéias para pesquisas futuras. E perguntou: “Como
cada uma de nossas pesquisas irá contribuir para uma agenda
futura?”.
Para Marcovitch, é preciso que a Universidade esteja conectada
com as demandas do mercado. Em vários anos de pesquisas,
o professor vem percebendo a ausência de estudos sobre os
setores de transporte, celulose, papel e alimentos, por exemplo,
e o que cada um deles pode fazer para reduzir os efeitos dos gases
estufa. “Qual o impacto das inovações? Os pesquisadores
devem fugir do lugar-comum das pesquisas atuais. Temos que relativizar
qual é o impacto das inovações, mas também
temos a necessidade, no setor empresarial, de olhar para as emissões
florestais, para que o Brasil possa construir o seu novo ciclo
de crescimento”, recomendou.
Marcovitch explicou que a comunidade científica trabalha
com tempos largos e valores universalistas para conseguir chegar às
respostas de suas pesquisas, enquanto no outro extremo há o
tempo das empresas, que precisam de respostas rápidas para
atender à demanda do mercado. “Nesse sentido, é preciso
investir cada vez mais para que as pesquisas universitárias
e as empresas consigam uma relação mais próxima
e produtiva para ambas.”
Mostrando ainda novas perspectivas para as pesquisas, o ex-reitor
afirmou que o conhecimento das áreas de biociências
e astrofísica está chegando muito perto das áreas
aplicadas. Como exemplo, ele citou a área de agrometeorologia. “É uma área
essencialmente transdisciplinar, que exige um profundo conhecimento
de astrofísica e meteorologia, assim como de agricultura. É dessa
interdisciplinaridade que nasce uma nova perspectiva de modelagem
e suas aplicações para políticas públicas
e para decisões empresariais, campos profissionais recentes
de que os jovens podem se apropriar.”
Para o ano de 2012, quando será apresentada a avaliação
do Protocolo de Kyoto, Marcovitch antecipa três possíveis
cenários. No primeiro deles, o professor supõe que
nada ocorrerá até aquela data. Com a derrota do governo
americano no Congresso, pode ser que os Estados Unidos continuem
se negando a participar do protocolo, e os outros países
só reduziriam os seus índices caso Brasil, China
e Índia tivessem compromissos em reduzir suas emissões
de gases estufa. Com isso se paralisaria o processo de negociação.
Marcovitch no seminário: é preciso mais interação
entre academia e empresas
No segundo cenário – “o ideal”, segundo
Marcovitch –, seria possível encontrar, já em
junho deste ano, uma decisão política que faça
com que, na reunião de Bali, que ocorrerá em novembro,
tenha início a discussão do regime do protocolo. “Com
uma clareza política já em 2007, o setor empresarial,
que precisa de pelo menos um ano para traçar suas estratégias,
poderá ter tempo suficiente para pensar suas ações.”
Mas o terceiro cenário é o mais provável,
diz o professor. Nele, os negociadores não mostrarão
suas cartas antes do prazo determinado, só colocando suas
propostas na mesa no último momento. Isso fará com
que as empresas tenham que esperar até o final do prazo,
prejudicando suas estratégias de ação.
Uma preocupação do professor diz respeito ao cuidado
que os negociadores brasileiros do etanol têm que ter para
não perder o “bonde da história”. “Caso
as pesquisas brasileiras com etanol sejam entendidas somente como álcool
processado e não como exportador de conhecimentos, estaremos
mais uma vez perdendo a vez”, lembrou Marcovitch. “Temos
que exportar o processo do etanol, que começa na pesquisa
do motor do carro a álcool e chega no flex, a distribuição,
como um país capaz de desenvolver tecnologia para o biodiesel.
Não podemos ser só vistos como produtores de etanol.” Responsabilidade – Outro participante do seminário,
o diretor-presidente da indústria química Ultraleve,
Pedro Wongtschowski, destacou que, embora a América Latina
seja pouco responsável pela emissão dos gases do
efeito estufa, ela precisa se responsabilizar pela resolução
desses problemas. “Se o Brasil não agir com rapidez,
perderá 5% do PIB a cada ano. Caso comece a agir, os custos
das ações para a redução do impacto
do efeito serão apenas de 1% do produto interno bruto.”
Wongtschowski ainda ressaltou que seria uma grande contribuição
se as empresas usassem o seu poder de compra no sentido de educar
os seus fornecedores na questão da redução
da emissão dos gases de efeito estufa.
O professor Vahan Agopyan, presidente do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e ex-diretor
da Escola Politécnica da USP, concordou com Marcovitch na
questão de o Brasil não ser apenas exportador de
commodities. “É preciso investir sempre e cada vez
mais no conhecimento que adquirimos sobre o etanol.”
Para Agopyan, há uma mudança de postura da sociedade
como um todo, compreendendo melhor o problema ambiental, criando
consciência sobre ele e concordando em pagar o custo que
isso demanda. No entanto, o governo não acompanha esse movimento. “Urge
que tenhamos uma mudança cultural e entendamos o que é a
sustentabilidade de ponta a ponta das nossas relações.
Podemos e devemos mudar a cultura das empresas na produção
de bens.”
Outra proposta do presidente do IPT é que seja criada uma
demanda de profissionais conscientes e competentes nessa área
de atuação. “Não podemos encarar as
mudanças climáticas apenas de forma pragmática,
mas também de forma consciente. Temos que definir focos
e centrar esforços para o desenvolvimento desses profissionais.”
O professor Ricardo Abramovay, da FEA, acredita que a existência
de legislação e pressão social é muito
positiva para mudar a forma como as empresas vêm se organizando. “Os órgãos
ambientais têm grande importância no processo de regulação.
Mesmo que errem, o prejuízo é muito pequeno perante
a falta deles”, disse no seminário. Ele citou um bom
exemplo de conscientização das empresas para a redução
dos problemas climáticos: “Na agricultura, as indústrias
de óleos vegetais deram um grande passo ao declarar que
não vão comprar soja de áreas devastadas”.
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