É fundamental
estabelecer diretrizes pragmáticas quanto à proteção
da propriedade intelectual relativa à produção
científica e tecnológica de nossos docentes, pesquisadores
e estudantes de graduação e de pós-graduação,
como também difundir informações sobre a natureza
da propriedade intelectual, sua titularidade, suas formas de transferência
para a sociedade e os procedimentos específicos adotados
no âmbito da USP. A Agência USP de Inovação
já está desenvolvendo um amplo plano de ação,
cujo objetivo é ampliar nossa capacidade de transferir conhecimento
criado na Universidade para a sociedade.
Nesse contexto, o propósito dessas ações é,
além dos benefícios oriundos da publicação
para o avanço da fronteira do conhecimento, também
promover a excelência em pesquisa de nossa universidade como
uma contribuição para uma economia produtiva, a prosperidade
de nossa nação, o bem-estar de nosso povo e a proteção
de nosso ambiente.
A propriedade intelectual gerada pelos pesquisadores na USP deve
ser utilizada para maximizar o fluxo de benefícios para nossa
sociedade, explicitando de forma contundente o compromisso de nossa
Universidade com o desenvolvimento socioeconômico.
A Universidade está compromissada em prover um ambiente onde
a atividade acadêmica e a inovação possam florescer
e seus criadores possam justamente ser recompensados por sua criatividade
e, ao mesmo tempo, reconhecer que a propriedade intelectual desenvolvida é resultado
do ambiente provido pela Universidade.
É com essa relação especial existente entre
a Universidade e seus docentes, pesquisadores e estudantes que se
deve promover a transferência do conhecimento gerado para a
sociedade, de modo a beneficiar a geração de emprego
e renda e estimular a empregabilidade de nossos estudantes.
Parceiros – É fundamental também que a cooperação
científica, técnica e tecnológica com os potenciais
parceiros do setor empresarial, os governos e os órgãos
de fomento à pesquisa seja facilitada por uma política
acadêmica clara, desburocratizada e pró-ativa.
Essa política acadêmica, bem como sua prática,
está em harmonia e de acordo com as políticas estabelecidas
através da Lei da Propriedade Industrial, dos procedimentos
estabelecidos através do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (Inpi), da Lei de Inovação e da Lei Geral
das Micros e Pequenas Empresas – recém-sancionada
pela Presidência da República –, bem como com
a política da Fapesp para a propriedade intelectual que é gerada
com o apoio de recursos públicos, tornando proprietários
a Universidade e os parceiros que promovem o desenvolvimento desse
conhecimento.
A exemplo das boas práticas implantadas nos escritórios
de transferência de tecnologia das melhores universidades
dos países desenvolvidos, a Agência USP de Inovação é o órgão
da Universidade responsável por submeter o registro de toda
a propriedade intelectual gerada na Universidade por seus docentes,
pesquisadores vinculados, funcionários e seus alunos.
A Agência USP de Inovação já executa
de forma expedita todos os procedimentos necessários para
orientar, apoiar e proteger a propriedade intelectual, provendo
as garantias para a Universidade e para seus inventores, bem como
o desenvolvimento de estudos de viabilidade técnica e econômica
para as tecnologias visando ao licenciamento da propriedade intelectual
de acordo com essa política.
O processo de difusão dessas informações e
a conscientização da comunidade USP permitirão
proteger o conhecimento criado no ambiente de pesquisa entre o
orientador e o orientado, em prol do benefício do desenvolvimento
social e econômico do País e mesmo intensificar a
excelente produção científica de nossos docentes.
Além disso, todos os convênios e contratos entre a
Universidade, instituições de apoio, as empresas
ou com outras organizações externas já incorporam
os procedimentos de gestão, sigilo e de direitos definidos
por essa política, reservando-se a eventual possibilidade
de transferir seus direitos a outrem em comum acordo com seus criadores.
Ao descrever o invento, o pesquisador é auxiliado por profissionais
agentes de propriedade industrial para explicitar de forma clara
e precisa, no relatório descritivo, o problema existente
na tecnologia já conhecida e a solução oferecida
ao mesmo. Ao ressaltar sua inovação, apresenta todas
as vantagens da mesma em relação à tecnologia
conhecida, bem como detalha com suficiência descritiva todas
as etapas de sua produção, de modo que um técnico
da área possa reproduzi-la completamente.
Fonte de tecnologia – A patente constitui-se também
numa excelente fonte de informação tecnológica
para o conhecimento das tecnologias patenteadas no mundo todo e
disponibilizadas nas bases de patente do Inpi e nas demais bases
existentes no exterior. Por iniciativa da Agência USP de
Inovação e do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi)
da USP, foi desenvolvido um excelente tutorial para orientar nossos
pesquisadores e estudantes nessa busca. Com certeza, nossos estudantes
poderão estar ainda mais bem preparados para o desenvolvimento
da inovação com a utilização dessas
importantes bases de informação tecnológica.
A Agência USP de Inovação e sua representação
nos pólos USP Inovação em cada campi estão
preparadas para, com agilidade, orientar, apoiar e proceder ao
registro da inovação, ou seja, de tudo aquilo que
ainda não faz parte do estado da técnica, bem como
instruir docentes e estudantes para que, bem antes de tornar público
esse conhecimento, através das necessárias publicações
nacionais e internacionais, esse conteúdo seja protegido.
Isso deve ser feito tão logo o plano de pesquisa de nossos
pós-graduandos identifiquem a potencialidade da criação
de inovação. As comissões de pesquisa, pós-graduação,
cultura e extensão e graduação podem cooperar
de forma muito relevante nesse processo de conscientização
no âmbito de cada uma de nossas unidades. Desenvolver projetos
que contribuam para o aumento da competitividade de nossas empresas é também
uma importante forma de transferência de conhecimento para
a sociedade que devemos promover.
Publicamos anualmente cerca de 5 mil artigos indexados no ISI.
Certamente uma boa porcentagem dessas pesquisas possui elevado
potencial para inovação. Com a difusão desse
conhecimento em forma de patentes, é muito mais fácil
para as nossas empresas poderem se beneficiar desse conhecimento
e incorporá-lo em seus processos de produção
de bens para o desenvolvimento da nação.
Tanto no Brasil como nos países desenvolvidos, a patente é conhecida
como um poderoso instrumento que atua como vetor de transferência
de conhecimento para o desenvolvimento socioeconômico das
nações. A inovação guiada pela ciência
(science-driven innovation) constitui-se efetivamente num importante
instrumento para a criação de novas empresas (spin-offs),
onde em geral o nosso docente pode e deve ser o seu mentor e orientador
científico. São muitas as empresas criadas em São
Carlos oriundas do spin-off da ciência produzida na USP.
É notório o impacto no desenvolvimento econômico
e social dos Estados Unidos e no mundo oriundo de inovações
criadas nas Universidades de Stanford, da Califórnia (Berkeley)
e no MIT. Essas inovações são transferidas para
a sociedade nessa forma de spin-offs da pesquisa. Essas inovações
não são orientadas pelo mercado, outrossim, transferem
conhecimento para a sociedade a partir da ciência que criativamente é desenvolvida
no ambiente acadêmico.
Tendências – Na USP, as engenharias e as áreas
das ciências naturais têm contribuído para o
desenvolvimento dessas criações. Entretanto, somente
agora é que estamos enfatizando sua transferência
para a sociedade. Nossos dados apontam uma importante tendência
de aumento no número de pedidos de patentes nos últimos
anos (veja gráfico).
Devemos implementar esse importante indicador de produtividade
acadêmica. Ainda há muitas patentes geradas na USP
que foram registradas sem a titularidade da USP, ou porque o docente
não tinha a necessária informação sobre
os procedimentos ou registrou em seu nome e da empresa que apoiou
sua pesquisa ou mesmo foi registrada em seu nome e com a titularidade
da Fapesp, que fomentou seu desenvolvimento.
Estamos regularizando cada um desses processos para os registrar
formalmente junto ao Inpi, com o qual estamos firmando convênios
de cooperação, e assim realçar também
com esse indicador, o devido prestígio que nossa universidade
também possui.
É evidente que podemos ser ainda muito mais relevantes na
difusão do conhecimento e na promoção do empreendedorismo
universitário.
Nossa universidade está participando ativamente do Programa
Paulista de Parques Tecnológicos, bem como promovendo a
integração cooperativa do conjunto de Incubadoras
de Empresas vinculadas à USP, como o Cietec (Capital), a
ParqTec (São Carlos), a Supera (Ribeirão Preto),
a EsalqTEC (Piracicaba) e as incubadoras de empresas que estão
em fase de estudos junto à Faculdade de Zootecnia e Engenharia
de Alimentos (FZEA), em Pirassununga, e à Escola de Engenharia
de Lorena, como também estamos promovendo ações
visando à implantação de uma incubadora de
empresas voltada às tecnologias sociais vinculada à USP
Leste (veja figura).
Além disso, a USP integra, com a Universidade de Barcelona,
a Universidade de Santiago de Compostela, a Pontifícia Universidade
Católica do Chile e o Instituto Tecnológico de Monterrey,
no México, a Rede Internacional de Incubadoras Universitárias
Santander. Essa integração e cooperação
entre essas incubadoras de empresas constituem-se numa importante
ação para a internacionalização da
criação do conhecimento gerado na USP.
Esses são importantes habitats de inovação
e de empreendedorismo que já demonstram um relevante vigor
em gerar emprego e renda. O faturamento das empresas vinculadas às
incubadoras já contribui de forma relevante para a criação
de novos postos de trabalho e também para a arrecadação
do Tesouro do Estado de São Paulo.
Durante a Semana USP da Propriedade Intelectual (de 23 a 27 de
abril), promoveremos um amplo conjunto de atividades que estimularão
a reflexão e a conscientização para esse que é um
dos importantes temas da atual pauta da Universidade, pois amplia
seu papel na promoção do desenvolvimento socioeconômico
sustentável que tanto desejamos para nosso Estado de São
Paulo e para nosso país.
Oswaldo Massambani é coordenador da Agência USP de
Inovação
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