Poucos temas ou discussões costumam acender tanto os debates universitários quanto o que coloca em questão a relação entre a Universidade e a Empresa, no seu aspecto mais amplo. Deve ou não haver ligação entre ambas as instituições, em que níveis deveriam ou devem ocorrer – para se ficar apenas com algumas questões recorrentes. As posições passam de "a" a "z", do menos ao mais radical, do equilíbrio ao vozerio em mais de um ponto determinado. O que importa verdadeiramente dentro dessa multiplicidade de vozes atuantes que fazem, vivem e empurram a vida universitária para a frente é o fato de que a questão está em franca discussão, dentro das mais diversas instâncias universitárias. O que por si só indica um fato dos mais positivos. Num momento em que as transformações sociais viajam com a velocidade dos bits, em que as barreiras da comunicação caem quase que à velocidade da luz, a Universidade se dá mais e mais conta de que a sua autonomia não acontece e se estabelece apenas pela concretude de seus muros, o qual delimita seu próprio espaço físico. Uma observação um tanto simples – não simplista, nem redutora – é o fato de que o plano do saber, de uma forma ou de outra, antes de mais nada, é abstrato. "Gato-escaldado" pelo desenvolvimento recente da história do país, se assim é possível se exprimir, a combatividade que marcou a vida de grande parte de seus quadros durante anos, responsável inclusive em determinados momentos pela própria sobrevivência da instituição, passa por momentos de profundas reflexões sobre o papel universitário dentro das mais novas conjunturas sociais, políticas e econômicas – que, no final, determinam saúde, educação e cultura, como estamos acostumados a assistir à exaustão, neste país que não tem tradição de agir com bondade para com as camadas mais humildes da população. Universidade-Empresa, dossiê que contempla o vigésimo quinto número da Revista USP, traz com rara felicidade a ponta de reflexão de um iceberg que mexe com o centro nevrálgico da Universidade. Prova disso são os nomes que assinam esse dossiê, atestando a importância do tema. Para além das posições de cada colaborador, o leitor certamente encontrará e contará com pontos de vista e de argumentação não apenas sérios, como sóbrios.
Completando o número, estendem-se as seções Textos e Livros. Aí o leitor encontrará leituras diversificadas sobre assuntos relevantes e díspares, não só importantes do ponto de vista cultural, mas que também contam com abordagens originais, que certamente seduzirão o leitor.

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