Se a busca da religiosidade é prerrogativa do homem, como se vê em todo o mundo e em qualquer era, a exacerbação dessa mesma religiosidade pode ser completamente nefasta para o ser humano. É justamente trabalhando com essas exacerbações que propomos ao leitor um dossiê que tem tudo para ser um clássico no gênero – se é que é possível falar dessa forma de um periódico acadêmico voltado à cultura.
“Messianismos e Milenarismos no Brasil” é o título da seção que é carro-chefe da revista. Você que nos lê vai, a partir das páginas seguintes, mergulhar de cabeça em argutos ensaios que tematizam o que acontece quando o homem e a mulher se fanatizam a ponto de doar a própria vida por uma causa irracional. “Messianismos e Milenarismos no Brasil” aborda os surtos de religiosidade que se desenvolveram neste país tão propício às mais diversas formas do sagrado.
Termos cujos sentidos se confundem, messianismo e milenarismo podem coabitar, podem andar lado a lado. Se o messianismo se liga a uma figura religiosa central, como, por exemplo, Antônio Conselheiro – que arregimenta em torno de si os deserdados que buscam o retorno da monarquia –, por outro lado o milenarismo se confunde com o apocalíptico, uma vez que envolve não apenas forças militares que confrontam os participantes de tais movimentos religiosos, mas ainda o morticínio dentro dos mesmos, que buscam o “paraíso” em vida (como nos casos, por exemplo, do Contestado, do Catulé e de Pau de Colher, como veremos a seguir).
É preciso assinalar que a elaboração deste número, tratando de assunto tão complexo quanto fascinante, trouxe imenso prazer à redação. Assim, agradecemos desde já a João Baptista Borges Pereira e a Renato da Silva Queiroz, que tão bem cuidaram da organização e da seleção de textos com o constante cuidado que o tema exige. E, ao leitor felizardo que dirigir seus olhos para as páginas a seguir, nosso mais vivo desejo de boa leitura.
Nosso número se completa com os belos artigos das seções Textos e Livros.

 

FRANCISCO COSTA

 

 

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