HOMENAGEM AO PAULO CÉSAR BONTEMPI

Por Tarcisio D’Almeida.

Paulo César Bontempi provavelmente é o carioca mais paulistano e de essência parisiense que conheci. Faço tal afirmação apesar de conhecê-lo por pouco tempo, ou seja, dos anos 1990 para cá, pois sempre em nossas conversas e encontros, de alguma maneira, explicitava o respeito por sua origem no Rio de Janeiro, o reconhecimento por todas as formações enquanto profissional em São Paulo mas também o seu amor por Paris.

Em um jantar com os Professores Valmir Costa, Luciano Maluly, Luiza Lusvarghi e Beatriz Trezzi Vieira

A empatia entre nós, que de certa forma somos estrangeiros, foi portanto algo bastante natural. Durante os anos que estudei e estagiei na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), quer seja cursando disciplinas optativas da graduação em Letras Linguística no Departamento de Jornalismo e Editoração, quer seja também como assistente editorial da revista Comunicação & Educação do Departamento de Comunicações e Artes, e depois, entre os anos 2003 e 2006, quando ingressei no PPG em Ciências da Comunicação habilitação e m Jornalismo e cursei disciplinas durante meu Mestrado, Bontempi foi um profissional e amigo essencial durante minha trajetória acadêmica na ECA-USP. Nossas conversas sempre foram recheadas de informações, dicas e também muito humor, aliás este último sempre esteve presente nele e quando combinado com a ironia virava uma marca única dele.

14/03/2017 – último dia dele na ECA

Como um reflexo espontâneo, a amizade passou a existir entre nós. Além de um exíguo profissional no Setor de Pós-graduação do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, ele também se tornou um amigo que passou a ser bem-vindo ao meu lar. E mesmo com sua partida no 07.01.2023, o primeiro sábado do ano, guardarei com muito carinho e gratidão sua atenção, disponibilidade, carinho, diversão e, o mais importante, nossa amizade.

Descanse em paz, amigo.

 

NOTA DO EDITOR DO SITE ALTERJOR (Carlos Tavares Jr): Paulo Bontempi foi uma das raras pessoas que tive o privilégio de conviver na ECA, a partir de 2008, como aluno do curso latu sensu, quando presenciei o lançamento da Revista Alterjor, no Auditório do Departamento de Jornalismo e Editoração. Em 2010, quando cheguei ao mestrado no PPGCOM, chamou minha atenção ao me reconhecer, lembrando-se detalhes daquele dia. Controvertido, também era extrovertido à sua maneira: proferia frases de intenso humor com sabedoria e uma pitada de sarcasmo, Bontempi era capaz de fazer um dia intenso de aula ficar leve com sua marca, ao ponto de tomar nota de vários provérbios recitados, como por exemplo, a Lei de Murphy: “há males que não vêm para o bem, vêm para ficar pior ainda” , ao recusar um convite para o almoço: “Eu já cheguei comido”; ou mesmo em 2015, já no Doutorado no PPGCOM, colocou-me aos risos ao dizer: “Você aqui de novo? Eu não consigo entender por que tem gente que gosta de sofrer: voltar aqui na USP ao invés ir para lugares bons como os museus, já que pelo jeito você não vai trabalhar”. E ao me ver anotar as palavras, fazia questão de enfatizar: Paulo, você precisa publicar um livro de provérbios; são únicos, sábios e divertidos. Em várias vezes, Bontempi me ajudou em questão de segundos quando perguntava sobre os prazos protocolares da ECA e, sem titubear, ia direto para o seu computador acessar o sistema da USP, inclusive quando as aulas do PPGCOM tinham alterações de última hora. Em 2017, senti a ECA mais vazia, quando Bontempi se aposentou e proferiu: “agora estou livre, o trabalho não vai me tirar o ânimo, o dia e a vontade de fazer o que der na telha”. A fotografia abaixo me representa a essência dele captada em imagem.

Paulo Bontempi ao fundo, destacado no círculo

O seu legado não é apenas da memória, era do provérbio irreverente em uma época que o humor realizado na TV e nos stand-ups, de pessoas em situações controversas eram degradadas, os provérbios do Paulo Bontempi eram bastante analíticos e a piada não precisava de um pato que caía em uma pegadinha; dizia respeito à convivência e sobre como o próprio ser humano desesperado com o próprio cotidiano. Ao passar a habitar o outro plano, onde tudo é possível, aposto que o livro com as suas frases será estimulado não por mim, mas por alguém mais notável: o próprio Sigmund Freud e algo inusitado: ver um vienense do século XIX cair na gargalhada com as próprias análises da sociedade. A memória, desta vez, não é pelo lado bom ou ruim, porque os provérbios de Paulo Bontempi eram bastante característicos pois tinham as duas faces e alegravam o astral de qualquer transeunte que circulasse no CJE que inevitavelmente pediria a ele uma informação. Saudades!!!