CORONAVÍRUS: CAUSOS & CONSEQUÊNCIAS 12

No pós-corona, teremos a sabedoria ou a mesmice

Por Jorge Kanehide Ijuim

Máscara, álcool gel e higienização cuidadosa e constante. A rotina de Ricardo e de seus colegas de trabalho mudou drasticamente nas últimas semanas. Se antes tinham medo de cachorros, hoje o pavor é do novo corona vírus.

Ricardo André Barbosa Leopoldino, funcionário dos Correios desde 2014

Ricardo André Barbosa Leopoldino trabalha nos Correios desde 2014, quando vivia em Belém-PA, cidade em que nasceu há 42 anos. Em Florianópolis há dois anos, mora no bairro Costeira do Pirajubaé, com sua esposa Dimar, que é professora de educação física, e seu filho Lukas, 22 anos, estudante de agronomia.

A vida de carteiro exige resistência, muita observação, agilidade, inteligência. Essas qualidades são necessárias para fazer chegar aos “distritos” a correspondência que tanto esperamos… ou não. Os Correios entregam cartas, além de boletos bancários, multas de trânsito, entre outros documentos. No humor popular, também foram chamados de “conteiros”. Um dos distritos em que Ricardo atuou é uma avenida na região sul de Florianópolis, de umas 20 quadras e todas as suas transversais. Haja físico de atleta para percorrer um trajeto como esse.

Hoje no setor de entrega de encomendas, Ricardo tem outras tarefas igualmente desafiadoras. Não carrega mais a sacola lotada de correspondências, mas as entregas de volumes de vários tamanhos o coloca muito mais em contato com pessoas que devem assinar o protocolo de recebimento. “Se a pessoa tem uma caneta, tudo bem. Se não tem, não deixo tocar na minha. Eu anoto o nome de quem recebeu e fotografo no sistema (equipamento semelhante a um celular)”.

No seu entender, a empresa tem tomado medidas para o enfrentamento da pandemia. Distribuiu EPIs como máscaras, luvas e material de higiene. Também abriu a possibilidade de o funcionário que esteja num grupo de risco aderir a um termo de afastamento, mas com redução de vencimentos. Ricardo destacou a atuação do seu sindicato, que conseguiu reverter este senão.

Mesmo com os procedimentos de cuidados e proteção, confessa que tem medo. O emocional o persegue a todo momento. Numa das entregas há poucos dias, a pessoa espirrou. Ainda que numa distância “segura”, não há como não se preocupar. Quando retorna para sua casa, a tensão aumenta, pois lembra que seu filho Lukas convive com bronquite asmática, uma das situações de risco. Então tem que deixar os calçados fora, tira a roupa imediatamente e colocar para lavar, em seguida vai para o banho.

A família Leopoldino integra a Comunidade Evangélica Integrada da Amazônia desde os tempos de Belém. Em Floripa, compõem uma das células dessa congregação. Na sua opinião isso ajuda a manter a serenidade.

Esta serenidade lhe permite afirmar uma previsão de esperança… ou não. Para Ricardo Leopoldino, essa pandemia nos ensina que podemos dar mais valor ao tempo, ficar mais em casa, dar atenção à família. Não precisamos sair tanto, comprar o que nem precisamos. “No pós-corona, teremos mais sábios, e outros na mesmice”.