CORONAVÍRUS: CAUSOS & CONSEQUÊNCIAS 14

O aprendizado de uma pandemia para os profissionais e pesquisadores de Jornalismo

Por Valquíria Aparecida Passos Kneipp

Com as medidas de distanciamento social que estão em vigor no Brasil, devido à pandemia mundial do novo coronavírus, a rotina de todos vem sendo alterada, na tentativa de conter o aumento do número de casos de COVID-19. Para os jornalistas e pesquisadores de jornalismo o aprendizado tem sido intenso e inovador, na tentativa de se adaptar ao novo contexto, e manter as atividades de pesquisar e de informar. E por isso, surgem muitos questionamentos como, por exemplo, o que fazer numa circunstância tão inusitada? Não existem manuais, pois nunca houve uma situação como esta, pelo menos vivenciada por esta geração. Por isso, um processo de adaptação e recriação das rotinas de trabalho está em curso, com uma reconfiguração do modus operandi do jornalismo. Como reflexo deste momento já se pode observar maior valorização e credibilidade no jornalismo, que foi considerado serviço essencial e com flexibilização para as atividades.  Com o isolamento social, e muitas pessoas em casa, a consequência disso é que a audiência das emissoras de televisão aumentou. De acordo com a pesquisa Kantar/IBOPE houve um crescimento de 8 a 20% entre as emissoras, e os programas mais assistidos são os informativos.

No mundo acadêmico e profissional do Jornalismo, as atividades presenciais, quando possível são paralisadas ou realizadas em home office. Com isso, uma avalanche de eventos foram cancelados, e em sua grande maioria ainda não tem nova data para acontecer.

A partir da observação deste novo cenário alguns exemplos destas adaptações ao longo deste período de confinamento foram identificados A emissora de maior audiência do país, a TV Globo suspendeu a gravação e exibição de diversos programas, a começar pelas telenovelas, que tem como base de produção o contato físico, e a necessidade de grandes grupos de pessoas no processo de produção. A alternativa para a telenovela foi exibir o que já estava gravado e começar a exibição de reprises.  Programas como “Mais Você” de Ana Maria Braga e “Encontro de Fátima Bernardes”, foram suspensos a partir do dia 17 de março até 19 de abril, pelos mesmos motivos. No horário destes dois últimos programas que tem a produção híbrida, com jornalismo e entretenimento (Mais Você e Encontro) foi ocupado por um tempo maior dos telejornais matutinos (Bom Dia Brasil e Bom Dia Praça) e um programa dedicado ao jornalismo, especializado em saúde, com entrevistas e esclarecimentos sobre o momento inusitado que não apenas o Brasil, mas o mundo todo enfrenta com o programa: o combate ao Coronavírus.

No campo do telejornalismo, os jornalistas com mais de 60 anos (que fazem parte do grupo de risco) foram colocados em isolamento social, e afastados das atividades presenciais, como os jornalistas Carlos Tramontina e Chico Pinheiro. Outros desenvolvem suas atividades em home office, fazendo matérias e participações em programas, a partir de suas próprias casas, usando seu computador e celular, como é o caso dos jornalistas Zileide Silva e Galvão Bueno, por exemplo. Os jornalistas que não tem mais de 60 anos, mas estão no grupo de risco por alguma doença, também substituídos, como é o caso de jornalistas José Roberto Burnier, que tem 59 anos.

Na reportagem foram adotas uma série de medidas para prevenir o novo coronavírus. Entre elas o uso de dois microfones, que quebrou a regra de que o entrevistado não pode pegar no microfone, agora pode. O respeito ao distanciamento de um metro entre repórter e entrevistado tornou-se uma nova regra (conforme imagem 1).

Outras medidas como a desinfecção de todo o equipamento constantemente, e cada novo entrevistado se tornaram uma parte da nova rotina da equipe de reportagem. Alguns precedentes inovadores foram abertos, como a realização de entrevista pelo celular ou computador (conforme imagens 2 e 3), alterando outra regra sobre a credibilidade da entrevista, que exigia a presença física do repórter no local onde o entrevistado estivesse. Agora, com as novas normas de distanciamento já é aceitável, que se faça entrevista a distância.

Imagem 1 – Reportagem com dois microfones. Reprodução da internet da IntertTV de Natal RN

 

Imagem 2 – Entrevista por celular. Reprodução do site G1

 

Imagem 3 – entrevista por computador. Reprodução do site G1

 

Mas não foram apenas os repórteres que mudaram suas rotinas produtivas, com as medidas de distanciamento social e prevenção ao coronavírus. Nas redações algumas medidas também foram adotadas como o uso de máscara por todos (conforme imagem 4). Outra alteração observada em algumas redações foi o revezamento dos jornalistas, que em alguns dias trabalham em home office e outros dias vão para redação, numa tentativa de ter um menor fluxo de pessoas, e evitar aglomerações, como comumente costumavam serem as redações.

Imagem 4 – Redação da Globo São Paulo. Reprodução do Instagram do jornalista Márcio Gomes

 

Na academia, a prática de bancas virtuais de defesa para mestrado e doutorado já eram uma prática antes mesmo deste estado de pandemia, devido aos cortes realizados pelo Ministério da Educação no último ano, e agora continuam a todo vapor. O que começou a se desenvolver em decorrência da pandemia foi à criação e realização de eventos virtuais. Como exemplo deste novo cenário de adaptação aconteceu no dia 11 de abril, pela internet, por meio de uma plataforma de videoconferência, O I Simpósio online de jornalismo do Centro Universitário da Uninabuco, de Pernambuco. Participaram do evento o professor da Universidade Fernando Pessoa (Porto – Portugal), o apresentador do Jornal da Tarde na RTP (Portugal) Hélder Silva, o correspondente da TV Globo em Londres, Rodrigo Carvalho e do repórter da TV Globo de Brasília, Vinícius Leal. Por quase cinco horas, os participantes falaram e responderam questões dos participantes.

Imagem 4 – Seminário por vídeoconferência. Reprodução da internet do I Seminário online de jornalismo da Uninabuco

 

Diante do contexto que estamos vivendo na atualidade, um grande aprendizado se coloca diante do profissional e do pesquisador de Jornalismo, com novos desafios a cada instante. Se este estado de coisas vai perdurar por muito tempo, ou se essas novas rotinas vão se incorporar a profissão, ainda é uma incógnita.

Valquíria Aparecida Passos Kneipp é doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Pós-doutoranda na FAAC-UNESP. E-mail: valquiriakneipp@yahoo.com.br