ISSN 2359-5191

29/03/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 27 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Dispositivo feito em papel detecta adulterantes presentes em amostras de drogas
Sensores auxiliam no trabalho da perícia criminal, identificando adulterantes usados nas drogas
Os dispositivos podem ser fabricados em papéis de fácil obtenção, como o utilizado para confeccionar filtros de café. Créditos: reprodução internet

O dispositivo criado por William R. de Araujo e Thalita G. Silva, doutorandos em Química, orientados pelo professor Thiago R. L. C. da Paixão - com a colaboração da aluna de iniciação científica Gabriela O. da Silva. - detecta substâncias adulterantes em amostras de drogas (as mais comuns são a cafeína, fenacetina, procaína, lidocaína e a benzocaína, que são, em sua maioria, anestésicos). A pesquisa, desenvolvida no Laboratório de Línguas Eletrônicas e Sensores Químicos do Instituto de Química da USP e com auxílio da FAPESP e CAPES/ Edital Pró-Forenses, visa auxiliar na detecção de drogas, facilitando o trabalho da perícia criminal ao desenvolver dispositivos de baixo custo e de rápida e fácil utilização.

Os dispositivos são fabricados em papel sulfite ou cromatográfico (o mesmo usado na produção de filtros de café), nos quais são criados padrões que delimitam a área de análise, sendo que o resto da superfície é recoberto com um uma camada de cera através de uma impressão impressora comercial contendo esse material em seus cartuchos. Dessa forma, os líquidos ficam delimitados em uma região de análise. O uso do papel como substrato, torna esse dispositivo extremamente barato e promissor, uma vez que testes que demandam um maior tempo e laboratórios com dispositivos caros e sofisticados, podem ser realizados em questão de minutos, facilitando o trabalho da perícia.

Os sensores funcionam com uma tecnologia colorimétrica, através da qual é possível determinar a presença de determinado composto pelo aparecimento de cor no dispositivo de papel - por meio de uma reação química entre a amostra e um solvente específico. Para cada substância adulterante que se espera encontrar na amostra, um reagente é previamente adicionado nas regiões de análises delimitadas no papel. A amostra então é dissolvida em água, adicionada sobre essas regiões, e o resultado da reação apontará para a presença ou ausência das substâncias, de acordo com a cor fornecida no teste.

Além do resultado qualitativo, seria possível, ainda, um resultado semi-quantitativo, com o auxílio de um aplicativo instalado nos celulares dos policiais. Por esse meio, através de uma foto da cor obtida no papel, seria possível medir a concentração da substância relacionando a intensidade da cor capturada pela fotografia tirada pelo celular.

Por isso, o sensor pode ser utilizado como auxiliar no controle do tráfico e de fronteiras, uma vez que a identificação dos compostos adulterantes presentes nas drogas - normalmente utilizados para aumentar o volume e, por conseguinte, o lucro do tráfico -, fornece sua composição química, o que coopera para identificar a origem desses compostos, ou seja, um rastreio dessas drogas. Isso pois, dependendo da região de fronteira que a droga vem, ele tem um determinado aditivo ou adulterante, que é majoritário. Exemplificando, em um estudo feito em 2013, na dissertação do pesquisador Gustavo Neves - “Caracterização de amostras de cocaína apreendidas pela polícia civil do estado de Rondônia” - , verificou-se em 116 amostras de cocaínas apreendidas e analisadas na região de Porto Velho, entre 2011 e 2012, que 13,8% continham aminopirina como adulterante e 0,86% continham lidocaína, padrão esse que não é encontrado em amostras de cocaína de outras regiões do país. Em 2010, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Urbana da Câmara de Deputados, apontou a existência de 18 pontos de fronteiras no Brasil por onde as drogas entram no país, a maioria deles encontram-se em estados cuja fronteira é dividida com o Paraguai, Argentina e Uruguai (Rio Grande do Sul, Mato Grosso o Sul e Paraná).

Além disso, segundo os pesquisadores, o dispositivo poderia também ser utilizado para testes, nos quais seriam detectados os possíveis adulterantes ou metabólitos das drogas usadas pelos atletas. Nesse exame, a urina seria usada como amostra, aplicada no dispositivo de papel. Dessa forma, os laboratórios teriam uma demanda de tempo reduzida na análise, uma vez que teriam que analisar não várias amostras, mas sim apenas aquelas em que foi detectada a presença dos adulterantes, ou metabólitos das drogas.

 




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