Sob a orientação do professor André Sawakuchi, o pesquisador Dailson Bertassoli Jr., do Instituto de Geociências, avaliou em seu trabalho de mestrado a produção biogênica, em bacias sedimentares brasileiras, de dióxido de carbono e metano, tendo, este, papel fundamental na formação de gás natural. Tratando-se de uma importante fonte de energia, o gás natural é utilizado no país para diversos fins, como geração de eletricidade, combustível industrial, comercial e industrial, entre outros.
Diferentemente dos gases termogênicos - que são formados a partir de material orgânico soterrado a grandes profundidades e em alta temperatura e pressão -, os gases biogênicos são subprodutos gerados por micro-organismos que interagem com material orgânico depositado em camadas mais próximas da superfície.
O processo de pesquisa
A partir de amostras de rochas coletadas nas bacias sedimentares do Paraná e de Taubaté, o pesquisador verificou a taxa de produção dos dois gases nesses materiais (em laboratório e sob condições ideais), analisando se alguns fatores condicionais favorecem ou não a produção. Então, concluiu que a água, por exemplo, contribui para a formação a partir de metanogênicas, o que nos indica quais tipos de impactos ambientais podem influenciar na geração desses gases.
Além disso, constatou-se maiores taxas de geração de metano e dióxido de carbono em unidades que foram depositadas nas bacias a menos tempo, ou seja, que contêm matéria orgânica mais lábil. Verificou-se, também, uma relação diretamente proporcional entre a quantidade de matéria orgânica presente nas amostras e o potencial de produção dos compostos biogênicos. Porém, a pesquisa demonstrou que não existe relação entre a superfície específica (representada por uma fração entre a área do material estudado e a unidade de peso do mesmo material, tendo como resultado, geralmente, m²/g) dessas unidades e o acesso que os organismos metanogênicos têm à matéria orgânica presente nelas.
Viabilidade e relevância
Nas bacias sedimentares continentais do sudeste brasileiro, as suas rochas formadoras possuem um histórico térmico pouco favorável à exploração de hidrocarbonetos termogênicos, como o metano. Por isso, a produção de compostos biogênicos se torna uma possibilidade efetiva, e “acaba sendo viável você procurar por outras alternativas; aí, no caso, o biogênico, que não depende dessa maturação térmica, pode ser algo a ser explorado”, segundo o pesquisador.
Ainda assim, a oferta interna de gás natural representa, em nosso país, apenas 13,5% entre as demais fontes de energia renováveis ou não-renováveis, segundo os últimos dados registrados pelo Ministério de Minas e Energia (2014). No entanto, estatísticas da Empresa de Pesquisa Energética do MME mostram que o consumo de gás natural pelos brasileiros irá mais do que dobrar até 2030, chegando ao número de 97.460 milhões de m³ por ano, o que demonstra que há a necessidade de aumento na produção brasileira. Assim, a geração biogênica se torna uma alternativa com aplicação considerável à estrutura de produção energética brasileira; “o gás natural é importante para sustentar bases alternativas de energia, e mesmo o nosso sistema de hidrelétricas é sensível a sazonalidades climáticas, então às vezes, em período de baixa produção, a gente precisa controlar isso com termoelétricas”, complementa Dailson.