Este artigo apresenta o conto “Conversa de Bois” de João Guimaraes Rosa em uma perspectiva fabular. O conceito de fábula abarca um grande espectro de significações, que vai desde: resumo, intriga, conjunto, construção, até o conceito mais formalista, que lhe dá um sentido mais material. No entanto, imprimiu-se no gênero como característica principal, o cumprimento de uma ação e o uso do antropomorfismo (quando animais assumem características humanas). Na verdade, essa característica é que define o gênero fábula, pois as personagens principais são animais. O termo fábula vem do latim, fari, que significa falar ou do grego, phao,significando contar algo. A narrativa tem uma natureza simbólica e/ou alegórica, retratando uma situação vivida por animais, remetendo-se à situação humana, com o objetivo de transmitir certa moralidade. Lembrando a estrutura proppiana entende-se que ao explorar a fábula, o autor mineiro recusa o estado efêmero do fazer literário, entendendo-o como constante e cíclico, um eterno exercício de reconhecimento. Não há como encerrar algo essencialmente inclinado a se perpetuar. A obra literária se emancipa de seu tempo, contexto e espaço, seguindo como expressão autônoma que é. A conversa é de bois e os ouvintes são os humanos. A literatura e o sertão são do mundo.
Propõe-se, aqui, um estudo comparativo entre o romance rosiano Grande Sertão: Veredas e o poema épico homérico Ilíada. Diálogos fecundos acontecem entre obras literárias de outras culturas e épocas. Para que o fenômeno aconteça é necessário que o leitor participe de todo o processo comparativo e que aja como um leitor apto a aceitar o paralelismo proposto entre duas obras literárias. Tal paralelismo só se dá quando a enciclopédia do leitor tem instrumental para realizar a ação de leitura, o que Eco chama de competência enciclopédica. Quando uma análise comparativa acontece, leva-se em conta uma série de indagações. Na verdade, o fenômeno amplia os horizontes de leitura e demanda um estudo pormenorizado. Valer-se da literatura para refletir sobre literatura é por demais proveitoso. Perfilar Rosa e Homero enriquece o estudo de literatura sem fronteiras culturais e lingüísticas. Daí poder dizer que o Sertão e a Hélade estão próximos e que Grande Sertão: Veredas e Ilíada interrelacionam-se. O encontro das narrativas propiciou o surgimento de veredas esperadas e não esperadas, como a comparação entre o diabo e o deus grego Hades. Foram percebidos encontros estilísticos entre Rosa e Homero. Algumas veredas percorridas, outras desbravadas. No geral, a percepção de que muitas outras veredas se abriram, esperando para serem percorridas em outra oportunidade. Cada vereda surge de modo variado. Encontramo-nos, então, em uma profusão de caminhos, uns citados por Riobaldo, outros pelo aedo da Ilíada e outras tantas pelo próprio leitor.