Neste artigo buscamos aprofundar a compreensão sobre a corporeidade na capoeira angola, sob o viés da educação de sensibilidade crepuscular, ao entremearmos noções da hermenêutica simbólica e da literatura em Guimarães Rosa, com sua ideia de travessia, ou escrevivendo. O objetivo central foi compreender a capoeira em suas dimensões corporais sensíveis e simbólicas. Para tanto, fizemos uso de observações em diário de campo de uma aula de capoeira angola e sua corporeidade poética. Verificamos que a capoeira é permeada por uma atividade corporal de sensibilidade crepuscular ancestral, como alternativa de re-ligare e re-legere, mas tendo a pessoa como ponto de partida, meio e fim de toda a travessia. Conclui-se que é nesta que se dá sentido à existência como seres humanos.
O texto, um dos capítulos da minha tese de doutorado (WILLMS, 2013), trata do sofrimento da criança a partir da novela Campo Geral, de Guimarães Rosa (2010). O personagem principal é Miguilim, um menino que tem “alma de poeta” e por isso pode nos despertar para a importância de se respeitar a criança, seus movimentos, sentimentos, dúvidas e dores. Além do sofrimento, o texto apresenta o brincar da criança do sertão, ou seja, da criança universal. O texto apresenta-se como uma educação de sensibilidade ou como um convite para oxigenar as políticas públicas que pretendem massificar a criança.
Ampliando alguns limites da escrita acadêmica para tratar do brincar na Casa de Recreação Te-Arte acolho a poética de Guimarães Rosa como suporte epistemológico e metodológico. Afirmo a filosofia trágica de Friedrich Nietzsche, a fenomenologia dos quatro elementos de Gaston Bachelard e da percepção de Maurice Merleau-Ponty. Sobretudo a sabedoria poética de Rosa e de Bachelard, sendo que Guimarães Rosa pode ser considerado também etnógrafo. Anotei o vivido no Diário de Campo significando o que estava à minha volta descobertas de crianças bem pequenas misturado aos elementos da cultura popular e à poética de Guimarães Rosa, engrandecendo este gesto ancestral o brincar. Trata-se, portanto, de uma investigação que está nas imediações da antropologia e da fenomenologia, mas que flerta com a literatura de Rosa para tratar de três núcleos do brincar: corpo, experiência e iniciação, a partir das experiências vividas na Te-Arte, um espaço de aprendizagem e uma experiência singular em educação, concebida e dirigida pela educadora Thereza Soares Pagani, a Therezita, em São Paulo. A Te-Arte existe desde 1975 e se distingue por não ter sala de aula, professores por turma e nem divisão de crianças por faixa etária. O que narro não é algo que possa ser disseminado como política pública, talvez como poética pública, como sugere Marcos Ferreira-Santos. O texto mostra os desafios de uma Pedagogia da Escolha anunciada por Rogério de Almeida e Marcos Ferreira-Santos, acolhendo outras linguagens para dialogar e deixar mostrações de uma educação de sensibilidade postulada pelos mesmos Autores.