Este artigo tem por objetivo analisar a construção narrativa do conto “Sarapalha”, escrito por Guimarães Rosa e publicado em Sagarana (1946). Partimos da hipótese de que a estrutura do texto se baseia em elementos próprios da poética do gótico literário, tais como a apresentação do espaço como locus horribilis, a presença de personagens com aspectos monstruosos, a exploração, no plano temático, da morte e da doença, e, sobretudo, a criação de uma temporalidade circular e fantasmagórica.
O presente artigo propõe uma leitura de Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa, sob a perspectiva das “poéticas do mal”. Partimos de observações e descrições feitas em um artigo anterior, em que demonstrávamos ser o medo um elemento temático e estrutural fundamental no romance rosiano. Dando continuidade a essa abordagem, nossa proposta é considerar especificamente a violência, tanto em sua dimensão temática quanto em sua função formal na narrativa. A hipótese a ser desenvolvida é que a violência também se configura como um elemento essencial da história de Riobaldo, não possuindo em si mesma um valor positivo ou negativo, uma vez que surge ora como um produto dos receios experimentados pelo protagonista, ora como um meio de conciliar e superar os seus temores.