O objetivo deste artigo é analisar como foram resolvidas certas dificuldades enfrentadas pelos tradutores ao verter a obra Grande Sertão: Veredas, do autor mineiro João Guimarães Rosa (1956) para a língua espanhola quanto ao estilo diferenciado do autor, mais objetivamente a utilização do tempo verbal subjuntivo e sintaxe. Foram selecionadas as duas traduções realizadas para a língua espanhola: a primeira por Ángel Crespo, publicada na Espanha pela editora Seix Barral em 1967, e a segunda por Florencia Garramuño e Gonzalo Aguilar, publicada na Argentina pela editora Adriana Hidalgo em 2009. Este trabalho tem como arcabouço teórico o trabalho de Ivana Versiani (1975), Mary L. Daniel (1968), norteado pela teoria das tendências deformadoras de Antoine Berman.
Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução
A presente pesquisa tem como objetivo apresentar uma análise dos aspectos linguísticos do estilo de Guimarães Rosa: lexicais, sintáticos, morfológicos e retóricos, e poéticos representados através das particularidades da linguagem diferenciada em Grande Sertão: Veredas, e nas soluções encontradas pelos tradutores. O autor eleva o nível do puramente discursivo a um degrau superior da expressividade com a utilização de recursos estilísticos, as figuras de lingua-gem; essas construções revelam-se diferenciadoras com respeito à prosa tradici-onal. O processo de criação de palavras e a renovação de outras já em desuso, a inclusão de um novo significado em termos já existentes ou procedentes de outras línguas, ou seja, ressemantização, os denominados neologismos que fazem parte importante da obra do romancista. A sintaxe é, sem dúvida, a con-tribuição estilística mais original e diferenciada, com raiz na oralidade do sertão mineiro e na pena criativa do escrito. Na sequência, analisam-se as soluções encontradas pelos tradutores ao viés das reflexões tradutórias de Antoine Ber-man e F. Schleiermacher. O corpus constitui-se do romance e das duas tradu-ções para a língua espanhola: a primeira versada pelo poeta espanhol Ángel Crespo, publicada com o título Gran Sertón: Veredas, em 1967; foi selecionada para esta pesquisa a segunda edição de 1982. A retradução ao espanhol foi realizada pelos professores argentinos Florencia Garramuño e Gonzalo Aguilar e publicada em 2009, com o mesmo título: Gran Sertón: Veredas; foi escolhida para o presente trabalho a edição de 2011.