O presente artigo tem como objetivo retraçar a recepção de Primeiras Estórias (1962), de João Guimarães Rosa, em tradução francesa publicada em 1982, pela Editora Anne Marie Métailié. O artigo parte da introdução da obra na França feita por Paulo Rónai na revista universitária Caravelle, em 1965, para então analisar a obra romanesca e novelística de Rosa, desvelando os aspectos mais notáveis dos principais contos de Primeiras Estórias tanto do ponto de vista formal (inovador e pioneiro) quanto do ponto de vista diegético. A recepção francesa desse conjunto novelístico passou por várias fases das quais a primeira concerne a própria tradução em francês. Assim, apesar da excelente avaliação da qual foi alvo da parte de tradutólogos como Antoine Berman e Henri Meschonnic, o texto em francês, no qual a tradutora se esforçou para manter o teor linguístico inovador de Rosa, encontrou certas resistências inclusive da própria editora que permitiu que « correções » fossem aplicadas em versões posteriores. Passado esse primeiro momento de questionamentos formais,, novas leituras, a partir de 2012, surgem na França em que a hermenêutica prevalece sobre a linguística ou a tradutologia.
Palavras-chave: Guimarães Rosa. Primeiras Estórias. Inovação literária. Tradução.Recepção.
Os problemas levantados à tradução francesa pela escrita, pelo estilo, pela relação com a escrita de João Guimarães Rosa. Motivos reiterados de 'Primeiras Estórias'.
Se considerarmos, como Walter Benjamin, que para o tradutor a primazia é dada ao original, podemos afirmar que todo original é atemporal, seja ele datado do século XVI ou XXI, e a razão é que a “tradutibilidade” do texto enquanto original é sempre um "après-coup". Ou, como diria Borges: “A verdade é que cada escritor cria os seus precursores. A sua obra modifica a nossa concepção do passado, como há de modificar o futuro.” Agamben, por sua vez, dirá que o contemporâneo é inatual, anacrônico. Não só porque o tradutor se transforma, nunca é o mesmo ontem hoje e amanhã, mas porque o texto só poderá ser considerado contemporâneo após a passagem do tempo enquanto precursor, enquanto extemporâneo. Nesse sentido, se considerarmos, por exemplo, Meu Tio o Iauaretê de João Guimarães Rosa como um texto precursor, inédito e original, seria interessante examinarmos as propostas francesas de tradução que ele induziu para apreciar em que medida o texto é um original e em que medida suas traduções man