Para estabelecer a relação entre Grécia e sertão, neste artigo, dedico atenção especial às vocalizações dos cavalos, tanto na Ilíada quanto na literatura ficcional de João Guimarães Rosa, mas também nas notas que o autor fez da leitura da poesia épica grega e no diário que ele escreveu na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Pretendo, com isso, demonstrar, por um lado, a recepção de um material antigo pela ficção de Rosa, que é incorporado à sua própria tradição literária, forjando uma nova. Por outro lado, como não posso afirmar (mas vou sugerir) que o autor brasileiro teria lido os verbos no idioma grego, veremos a capacidade que um “clássico” apresenta de participar de nossa história para além de caminhos verificáveis.
A presente dissertação de mestrado discute as relações entre história e literatura, detrês maneiras, que se entrecruzam. A primeira concerne às relações entre história eliteratura vislumbradas em importantes obras do cenário historiográfico contemporâneo,dos Annales aos pós-modernos. A segunda diz respeito ao mesmo tema, mas, dessavez, explorado na fortuna crítica de Grande Sertão: Veredas, a partir da forma comoessa crítica lê a história pelo romance, operando, para tanto, com os estatutos dahistória e da literatura de modo a ressignificá-los. A terceira forma, por sua vez,relaciona história e literatura, por meio de uma leitura autoral e específica do romancerosiano, tendo em vista a linguagem como elemento-chave.