O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, é enquadrado por compêndios no Realismo brasileiro. Contudo, essa classificação parece não dar conta do que o referido livro propõe em seu discurso, pois, tendo como voz narradora Bento Santiago, a obra é permeada por índices de indeterminação; nisso, já teríamos uma contravenção do código realista, conforme o conhecemos no século XIX. Por conseguinte, chamar a narrativa das obsessões de Bentinho de realista exigiria reconsiderar o que vem a ser tal termo, no mínimo. Para pensar como Dom Casmurro dá mostras de manter-se com fôlego até o nosso século, conduzi uma análise comparativa, trazendo os contos “A quinta história” (1964), de Clarice Lispector; “Desenredo” (1967), de Guimarães Rosa; “Estão apenas ensaiando” (2000), de Bernardo Carvalho; “A figurante” (2003), de Sérgio Sant’Anna; “Encontros na península” (2009), de Milton Hatoum.