No conto “Duelo”, a partir de uma vendeta mortal cometida por engano, inicia-se uma nova contenda, esta entre dois duelistas que nunca se encontram, distraídos da sua trilha bélica e lúdica, ora pelos achaques de saúde, ora pelas pistas falsas que espalham e que acabam funcionando como auto-engano. Acompanhamos a ironia dessas pistas e rastros, constituintes de um jogo de duplo engodo que perverte a lógica cartesiana simples, e cujo paroxismo consiste no fato de os rivais se cruzarem pelo caminho sem que o percebam, criando-se assim uma atmosfera complexa, eivada de uma lógica suplementar e paradoxal – um jogo de morte que acaba se revelando como a razão de vida dos adversários.
Abordagem do aspecto lúdico da narrativa rosiana, considerado a partir do estudo da "mimese como não imitatio", proposto por Luiz Costa Lima, e do texto ficcional como lugar de criação e destruição da "ilusão do real" (R.B.). Prioriza-se no plano do enunciado a problemática do pensamento mágico (ou lúdico), tomado aqui como forma simbólica entre as outras formas de representação social, com rápida incursão pela análise das relações de poder no texto. No plano da enunciação são observados os recursos utilizados para a dinâmica do jogo textual, capaz de engajar autor e leitor na construção de uma narrativa isenta de pretensões totalitárias.