Mapeamento dos circuitos semânticos que configuram Guimarães Rosa como intelectual público. Estudo das declarações e interferências do escritor na cena político-cultural e análise da contínua distensão quanto a expectativas de engajamento mais explícito.
Faculdade de Letras, Departamento de Ciência da Literatura
A literatura de Guimarães Rosa é um espaço de entrecruzamento, onde muitas vozes desestabilizam as pretensões de uma unificadora e autoritária. Por esta dinâmica, suas estratégias para a ficcionalização da oralidade configuram inusitada resposta discursiva ao desafio de representar nossa heterogeneidade cultural, pois seus textos amalgamam diversas formas lingüísticas e fazem colidir diferentes pontos de vista. Portanto, o recurso à heteroglossia, este locus de falas em oposição, constitui o eixo do engendramento da narrativa rosiana, refratando o fluxo de variados discursos ou consciências. Ou seja, ao incorporar uma gama de registros, acentos e tons, as novelas sobre as quais nos detemos - "O recado do morro" e "Cara-de-Bronze" - enunciam a co-presença de inúmeras alteridades, produzindo uma polifonia, e contrapondo-se ao despótico do monologismo. Ademais, ao questionar parâmetros teórico-críticos e ao enfocar contextualizadamente o manejo da oralidade na escritura de Rosa, nossa pesquisa fundamenta-se na provocante multiplicidade investigativa oriunda das vertentes críticas abertas pelos Estudos Culturais e Pós-Coloniais, tanto quanto pelo comparatismo de cunho multicultural. Desta maneira, primeiramente, estudamos, na recepção crítica da obra rosiana, os vetores analíticos atinentes à ficcionalização do discurso oral, aferindo os critérios que consideraram o texto representativo da "autêntica" brasilidade. Neste processo, questionamos o cânone literário e crítico, e a forma como os estudiosos compreenderam as estratégias, empreendidas por Guimarães Rosa, para textualizar uma cultura multifacetada. No segundo capítulo, propomos uma leitura de "O recado do morro", abordando a narrativa no plano de uma literatura empenhada em ressignificar o universo da oralidade. Pois, ao revitalizar a palavra escrita, oralizando-a, esta novela rejeita todo e qualquer projeto estético orientado para inscrever apenas "litera...
Faculdade de Letras, Departamento de Ciência da Literatura
Inscrevendo a obra de Guimarães Rosa num contexto mais amplo do que o universo literário e inserindo-o no conjunto de textos que pensam o Brasil, procuramos identificar o fluxo entre os paradigmas semânticos que articulam a construção discursiva do nacional na novela "Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)" e nos textos de diferentes pensadores sociais. No primeiro capítulo, analisamos a recepção crítica da obra de Rosa, e como esta foi articulada com a tradição literária brasileira. Considrando os debates sobre os estudos literários e culturais - submetidos a um processo recente de desconstrução - verificamos que a crise de paradigmas científicos estikulou leituras da obra rosiana, alicerçadas na interdisciplinaridade, e no questionamento de parâmetros teórico-críticos. E, no rastro das contribuições dos estudos pós-coloniais, sobretudo concebendo as dinâmicas da vida societária como de tal modo imbricadas que tingem de artificialismo qualquer aventura interpretativa mecanicista, procuramos aferir o trânsito entre campos semânticos tradicionalmente concebidos como apartados, quais sejam: a ficção e a ciência. No segundo capítulo examinamos os pontos em comum entre a dinâmica criadora de Rosa e algumas das metodologias de que se valem as ciências sociais. Abordamos, então, o papel desempenhado pelas narrativas no contínuo processo de engendramento discursivo da nação. Em seguida, concentrando-nos sobre os personagens Manuelzão, Senhor de Vilamão e Federico Freire investigamos como Guimarães Rosa empreende a leitura das diferentes temporalidades da nação. No lugar de dispor a história do Brasil numa linearidade que elimina o passado, ignora o presente, concentrando-se num futuro remissor, onde todas as esperanças do nosso malogrado processo de modernização seriam satisfeitas, o autor mineiro implode raciocínios fáceis e conservadores. Ao contrário, ao colocar lado a lado passado, presente e futur...