Em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, há uma ligação intensa entre poesia e pensamento. Pretendemos com o presente texto especular, então, em torno dessa aproximação entre a poesia e o pensamento na obra do autor, partindo da narrativa do personagem e narrador Riobaldo. A linguagem como expressão do pensamento e da poesia é na obra de Guimarães Rosa, antes de tudo, saga, isto é, linguagem que mostra, que faz aparecer o real sem que, no entanto, se comunique nada a respeito desse mesmo real. Desta forma, a linguagem é o que em Grande sertão: veredas faz exceder a realidade para além de seus contornos, de suas margens.
O sertão e sua desmedida é o tema do presente trabalho. Nele, buscamos nos aproximar do significado insólito, inabitual, do sertão no romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Nossa leitura visa, portanto, a partir da narrativa poética e metafísica do personagem e narrador Riobaldo, sentir e pensar o sertão enquanto uma realidade que extrapola o espaço físico e geográfico, que é sem fim, que é sempre outro sendo o mesmo, ou, como diria o narrador, que "está em toda parte". Para tanto, partimos de uma reflexão em torno da proximidade existente na obra entre poesia e pensamento. Na fala de Riobaldo, repercute um tom poético e pensante que, guiado pela intuição, coloca o "lugar sertão" a todo instante em suspenso, dando origem, assim, ao caráter insólito do mesmo. Entendemos, nesse sentido, o sertão como uma experiência que, antes de tudo, não se mede e que redimensiona a existência, alargando suas bordas, suas margens, ao permitir que ela seja, em sua finitude, infinita a cada instante; ou que o sertão, a princípio, relacionado a um determinado lugar geográfico, possa ser "dentro da gente", isto é, possibilite a travessia para o infinito, libertando, assim, o homem do peso da temporalidade, como desejava Guimarães Rosa.