Dois grandes autores, verdadeira unanimidade da crítica literária nacional, Machado de Assis e Guimarães Rosa representam a elaboração de uma escrita repleta de sutilezas, cuja metalinguagem permite desdobramentos na própria interação entre as esferas do autor e a do leitor. A questão da autoria, apresentada com picardia na abertura do Dom Casmurro, refrata-se em jogos interpretativos. No capítulo inicial, o narrador sugere uma bifurcação: de um lado, a biografia possível, de outro lado, a crônica histórico-social com a redação de uma Históriados subúrbios. No fundo, trata-se de um mesmo projeto, posto que ambos, o cidadão e a cidade, projetam-se em suas face tas ocultas; no centro urbano, as vias de acesso via trem da Central do Brasil, articulandoas a rtérias da polis; no homem, os recônditos da alma, a irromper no fluxo de uma memória que se quer centralizadora. Por sua vez, herdandoa perplexidade e tentativa de "atar as pontas da vida", a ascese de Riobaldo confunde-se com a de um grande sertão cujas trilhas compõema trajetória hermética de desvendamento dos contrários, da revelação do Tudo no Nada. A obra de Machado é permeada pelo pessimismode Schopenhauer, narrando-se o desespero de uma vida onde tudo tornou-se vão. A de Rosa, enlaça a admiração inicial de Nietzsche por Schopenhauer para, contudo, reverter esse pessimismo através da teoria do eterno retorno e dos aforismos de Zarathustra, com a alternânciada alegria e do desespero, da criação e da destru ição, do bem e do mal.