A proposta da dissertação é fazer um estudo das esferas da recepção da obra de Guimarães Rosa, a fim de traçar uma história das leituras desde o lançamento de Sagarana (1946). Tal trajeto busca identificar as marchas e contramarchas da crítica, as linhagens privilegiadas e as relegadas a um plano inferior, durante o século XX, pela mídia impressa (dos jornais de época aos mais recentes trabalhos acadêmicos no Brasil e no exterior) e não impressa (traduções para o cinema/televisão, música/contadores de estórias, teatro/artes plásticas e Internet). Na parte final, procura-se analisar os contos extremos de Primeiras estórias, verificando como aparecem ficcionalmente retratadas as ambigüidades da modernização "rurbana" no Brasil.
A tese investiga as homologias estruturais e temáticas entre as estéticas inauguradas pelo escritor Guimarães Rosa e pelo cineasta Glauber Rocha. O ponto de partida da comparação é um estudo de Riverão Sussuarana, único romance publicado pelo cineasta, no qual Rosa é uma das personagens principais. O trabalho aponta não só fontes, influências e afinidades entre os artistas, como defende que suas obras são fundamentalmente alegóricas e discursos cifrados sobre o contraditório processo de modernização do país. Na primeira parte, analisam-se os conceitos de redemoinho e transe, criados pelos autores e que configuram uma espécie de dialética negativa. A segunda parte concentra-se nas alegorias de Brasília presentes em contos de Primeiras Estórias e no último filme de Glauber, A Idade da Terra. A intenção é desvendar em textos, roteiros e filmes a dimensão da realidade histórica e política do Brasil. Por fim, o trabalho procura mostrar as confluências e divergências de estilos dos autores ao retratarem um país moderno sem modernização.