O objetivo geral do estudo do conto “O Recado do Morro”, do escritor João Guimarães Rosa (1908-1963), integrado à antologia Corpo de Baile (1956), é elucidar o trabalho de hibridação da forma, estrutura e linguagem do conto com os dados das Cadernetas de Campo do viajante autor e a narrativa relatada em processo de criação. A compreensão do trabalho concebido por nós como transcriação ficcional interessou-nos no tocante à maneira como a realidade empírica é traduzida pelas cadernetas (Boiada 1 e Boiada 2) e transformada pelas artimanhas ficcionais do narrador-viajante, leitor, testemunha e criador simultâneos. O emergir da história, sob o olhar do autor diplomata, apontou-nos a diferença refletida, em lato e stricto sensu – o movimento do tempo e espaço da viagem pela via da memória em fluxo fabular de imagens e da cartografia da rica natureza do sertão mineiro. Cenários e campos de experimentação da linguagem poética em relato de histórias em sincronia. Neste desdobramento de meta-narrativas, a dialogia é o método que concretiza o paralelismo conto e cadernetas de campo – entre o passado da recolha (Viagem de 1952) e o presente do relato (em permanente atualização). O grande efeito final é marcado pela viagem da invenção (sete histórias e sete recadeiros), por meio do Outro, humano e geográfico, alteridades que têm a função de representar e refratar as intenções do autor em função de um recado Universal: “O Recado do Morro”, o Morro da Garça na região de Cordisburgo, em transcriação poética para “O Recado da Terra”. Na dinâmica das viagens, a narrativa polifônica encontra seu duplo centro, a singularidade poética e a identidade lingüística rosiana que, uma vez degeneradas pelo fluxo da memória, apontam para a utopia do presente inacabado na obra, em coexistência virtual e atual. Estes são os princípios básicos levantados pela leitura de descoberta e invenção, travessia, contemplação e interatividade, nesta dissertação.