Visa-se a discutir como a obra de João Guimarães Rosa consegue ser um instrumento
de resgate e de valorização da língua oral. Partindo da perspectiva de que a
oralidade – desde mais precisamente o século o XVI – sempre fora descartada e/ou
marginalizada por uma política de prestígio ou mesmo pela produção acadêmica, a
obra de Rosa desponta como uma amostra de que a língua só se justifica enquanto
discurso efetivo; enquanto prática inserida num dado contexto social ou mesmo numa
dada circunstância. Nesse sentido, o autor faz uso de procedimentos reconhecidos por
uma tradição acadêmica como mecanismo de evidenciar (ou validar) outra tradição: a
língua oral. Mais precisamente neste artigo, adotam-se alguns contos das obras Primeiras
Estórias e Tutameia, do aludido autor, como forma de elucidar como G. Rosa,
mediante recursos tipicamente poéticos (tradição literária), consegue fazer da tradição
oral uma modalidade linguística que merece ser reconhecida e, por conseguinte, digna
de se ver representada pela tradição acadêmica. O escritor mineiro busca, dessa maneira,
através de uma tradição, resgatar outra tradição: a oralidade. Assim, a obra de
Rosa disponibiliza para a língua oral um espaço efetivo e, portanto, representativo na
produção ficcional brasileira.