O presente trabalho se propôs a analisar o discurso sobre a loucura na literatura e suas
relações com o discurso histórico. Para tanto, tomou-se por base os contos “O alienista”,
de Machado de Assis e “Sorôco, sua mãe, sua filha”, de João Guimarães Rosa, cujas
interpretações serviram de aporte para uma análise do discurso sobre a loucura e o louco
em fontes da cidade de Montes Claros – MG entre as décadas de 1950 e 1980. Como
suporte metodológico foi utilizado o conceito de discurso elaborado por Michel
Foucault e os debates tanto no campo da literatura quanto no da história sobre os
contatos que literatura e história estabelecem quando consideradas linguagens
produtoras de discursos, não de verdades. Para análise do conto machadiano, levamos
em conta, além do diálogo com a fortuna crítica do autor, suas crônicas e os debates
sobre a loucura no âmbito da história, de modo a evidenciar a falência do discurso
científico construído sobre o louco. O conto rosiano foi analisado na perspectiva da
“álgebra mágica”, conceito com o qual Guimarães Rosa diz fundamentar a escrita de
sua literatura. No contraponto do texto rosiano com o contexto histórico da década de
1980 em Montes, explicitamos de que maneira o discurso sobre a loucura já está
socialmente internalizado.
A partir da fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger, tentaremos mostrar que o
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, pode ser lido como uma experiência
mitopoética da própria condição humana. Ora, para Heidegger, em sua Carta Sobre o
Humanismo, de 1946, a linguagem não é apenas um instrumento de comunicação, mas a
“casa do Ser, a habitação do homem”. Para ele, a linguagem poética, ao ultrapassar a
dimensão do conhecimento lógico-científico, que é incapaz de compreender o Ser em
sua mais profunda manifestação no mundo, é a única capaz de resgatar o homem do
“esquecimento do Ser”. No seu “A caminho da linguagem”, de 1959, ele vai colocar
que “Enquanto aquele que fala, o homem é: homem (...) Mas ainda resta pensar o que se
chama assim: o homem”. Acreditamos que Grande Sertão é a grande tentativa rosiana
de “pensar” essa questão, e que toda a invenção e experiência de linguagem - marcada
pelo hibridismo, pela ambivalência, pela diluição de fronteiras – resultam de um
Riobaldo impelido rumo às dobras e desdobras da existência humana, “des-ocultando”
um “homem humano” marcado pela fragmentação, pelo profundo dilaceramento, pelas
incertezas. Enfim, o que resulta é o “homem humano”, travessia “nonada”. E o sertão
rosiano, enquanto obra poética, se apresenta como desvelamento da condição própria do
homem.
O presente trabalho apresenta um estudo acerca de Tutaméia – terceiras estórias, última
publicação de Guimarães Rosa. Tutaméia constitui, segundo nossa concepção, um dos
projetos lingüístico-literários mais radicais de Guimarães Rosa, uma experiência-limite da
escrita que envolve todas as dimensões do fazer literário, desde a materialidade do livro,
objeto e composto de signos, até a imaterialidade da obra. Nessa perspectiva, procuramos,
através dos mecanismos interpretativos de que dispomos (intertextualidade, intratextualidade,
etc), elaborar uma via de compreensão deste último e singular escrito do autor de Grande
Sertão: Veredas, a fim de defender o primado de Tutaméia como desenvolvimento último e de
melhor expressão das propriedades singulares da escrita rosiana, já presentes nos escritos
anteriores. Recorremos principalmente ao pensamento de Gilles Deleuze para compreender
como os conceitos de vazio, nonsense e ausência podem constituir os elementos estruturantes
do projeto rosiano.
Esta dissertação realizou um estudo da novela “Campo Geral”, de João Guimarães
Rosa, que compõe o livro Corpo de Baile. Pretendemos, com mais este estudo, suprir
uma carência da crítica no que diz respeito a uma análise histórico-comparativa relativa
à temática da infância na obra do autor mineiro. Para isso, consultamos trabalhos sobre
a infância de importantes historiadores. Com a reflexão desses autores estabelecemos
um diálogo produtivo com nosso corpus. Em Phillipe Ariès encontramos aspectos
sociais que contribuíram para a mudança de um estágio de ignorância em relação à
infância para uma constatação da sua existência, que Ariès chama de “sentimento de
infância” (ou infância moderna). Já Neil Postman percebeu que certas invenções
técnicas causaram impacto na estrutura das sociedades, em especial para consolidar a
noção de infância. Mary Del Priore, por sua vez, produziu e organizou textos sobre a
infância no Brasil, do período colonial ao século XX. Fizemos um recorte dessas
contribuições a fim de analisar as ressonâncias históricas da infância em “Campo geral”.
Esse diálogo serviu para demonstrarmos como se dá a relação alegórica entre infância e
sertão e suas relações com as configurações antigo-medieval e moderna. Apontamos,
por fim, uma relação simbólica entre infância e sertão, entre o mundo antigo-medieval e
moderno ou entre o sagrado e profano, em que a passagem de um estado para outro se
constitui a partir dos ritos de passagem.