"Grande sertão: veredas", único romance de Guimarães Rosa, apresenta uma estrutura textual que há muito vem atraindo a atenção dos críticos literários. Nesse livro, um narrador-protagonista, o velho jagunço Riobaldo, relata sua aventureira juventude a um desconhecido, vindo da cidade. Entre outras coisas, o que torna esse motivo tão interessante é o fato de que, durante toda a narrativa do ex-jagunço, nenhuma fala de seu visitante é registrada. Sabemos de sua existência através de indicações fornecidas pelo próprio texto do Riobaldo, povoado de recursos lingüísticos característicos de uma situação de interlocução. O homem de fora - que denominamos aqui narratário - já foi associado a um protótipo de leitor por parte significativa da crítica rosiniana. Entretanto, por muitas que tenham sido as sugestões nesse sentido, nenhuma foi completamente desenvolvida. É isso o que pretendeu fazer o presente trabalho, partindo da hipótese de que o estudo do papel desse narratário nos permitiria apresentar figurações da leitura. Dialogando sobretudo com proposições de Roland Barthes o fragmento e a figura, levantamos inicialmente seis figuras do narratário, quais sejam: o viajante letrado, o neutro, o amigo, o estranho, o adversário e o árbitro. Considerando também estudos de Erich Auerbach sobre a figura como concepções de leitura de Barthes e do próprio autor do romance (em documentos pessoais), associamos as figuras levantadas a um leitor-produtor capaz de articular vários níveis narrativos. Entretanto, ao contrário de usar o narratário para instituir um modelo de leitor ideal, concluímos que a ficção de Rosa nos propõe uma leitura plural e aberta, ou até mesmo 'falha', e por isso mesmo mais instigante, na medida em que não nos fornece uma interpretação única do texto literário.
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