A tese analisa a relação entre arte e pensamento, atuante nas culturas arcaicas, e problematizada pela ruptura da filosofia com o legado mítico-literário, desde o momento grego que instaurou a epistemologia ocidental. Essa relação insere os dois autores destacados — Friedrich Nietzsche e João Guimarães Rosa — no contexto dialógico entre esses dois saberes que os ultrapassa e os transforma enquanto movimento repetitivo e insistente na trajetória do pensamento. A leitura de Nietzsche segue os tópicos apropriados por Gilles Deleuze para considerá-los em contraponto às proposições de Guimarães Rosa, correspondentes às perguntas que resultaram nos conceitos nietzschiano-deleuzianos. A tese observa o interesse desses autores em explorar a linguagem como ambiente de experimentação de seus processos escriturais inovadores. Lança-se o foco crítico sobre o ponto de contato da obra de Nietzsche com a chamada Filosofia do Trágico, momento em que os filósofos alemães modernos debruçaram-se sobre a tragédia, por haverem reconhecido nela uma visão de mundo, um documento de filosofia primeira, na qual estão reveladas questões relevantes sobre a existência, o ser. É nesse ambiente que o pensador se forma filólogo e se torna filósofo, construindo, pelo viés do estilo de escrita, a peculiaridade de seu sistema de pensamento. A potência desse pensamento trágico vem da valorização radical da literatura, o lugar e a verdade do poeta, a arte como máxima afirmação. De outro lado, definindo-se como amante da linguagem, do literário, João Guimarães Rosa passa também a integrar a antiga relação pensamento e arte. Sua escrita articula modos de pensar arcaicos e modernos, resíduos de diferentes tradições orais e experimentos de vanguarda. São observados pontos em que essa escrita constrói novas formulações para os problemas de que os filósofos sempre se ocuparam. A estratégia adotada se dedica a captar momentos nos quais o autor enfrenta, através dos instrumentos especulativos da arte e das práticas rurais cotidianas, questões caras ao que ficou conhecido como filosofia.
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