Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária
Esta dissertação é leitura-escuta que analisa a presença da canção no fazer literário da prosa de Sagarana, livro de estreia de João Guimarães Rosa. Procura entender como a canção (palavra cantada), gênero híbrido, literário e musical pode contagiar a pena do autor, as vozes de personagens e narradores, e conduzir o corpo da prosa a apresentar matéria estética especial, singular. Em primeiro momento, a pesquisa investiga a biografia de Rosa e as correspondências entre este e seus tradutores, críticos literários e amigos, em busca de citações, revelações e chaves de leitura que soem essencialmente poéticas e musicais – Haroldo de Campos, sua ideia de transcriação literária, o crítico alemão Günter Lorenz e o próprio Rosa sublinham e definem propostas teórico-críticas que fudamentam o trabalho. O produto literário que brota de Rosa vaqueiro e viajante, de seu domínio de idiomas estrangeiros, da confluência da cultura oral de Cordisburgo, das cantigas e aboios dos vaqueiros, é observado, e é refrão presente, em cada capítulo. O trabalho de Paul Zumthor sobre leitura, performance e recepção marca e orienta a pesquisa em seu segundo ato, que tece a aproximação entre a forma-canção e Sagarana. Em ato final, a dissertação busca a "partitura musical" subjacente à prosa rosiana, a reger a dicção dos personagens, do narrador, do leitor, e cria possíveis melodias para trechos da prosa de Sagarana. O projeto constrói e desconstrói o discurso literário-musical de momentos da obra, forja a estrutura musical no corpo do texto e revela a música que possivelmente antecede e incorpora toda escrita com qualidade estética e poética, aproximando o processo criativo do compositor de canção popular ao do escritor de literatura.
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