Setor de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras
Esta dissertação discute a tradução no horizonte da indecidibilidade. Se, em geral, a tradução pode ser entendida como uma atividade fundada na tomada de decisão, este trabalho busca questionar o pressuposto de que a decisão caracterizada como a melhor ou a mais adequada seja de fato capaz de resolver, em definitivo, um problema de tradução, estigmatizando, nesse mesmo movimento, todas as outras possibilidades de decisão como hierarquicamente inferiores (piores, menos adequadas, inadequadas). Em seguida, buscamos redimensionar a noção de decisão (na tradução) à luz da noção de indecidível, de Jacques Derrida, com o objetivo de repensar as consequências desse redimensionamento sobre o modo como lemos um texto traduzido. Desse movimento, apresentamos uma leitura de dois textos críticos sobre a obra Gran Sertón: Veredas (1967) tradução espanhola do romance roseano realizada pelo poeta e tradutor Ángel Crespo, nos quais se pode ler as consequências de uma crítica de tradução baseada no pressuposto da melhor decisão, e que, nessa perspectiva, invalidaram a tradução espanhola por considerá-la um projeto falho e inadequado. Ao final, propomos a leitura de um poema da mesma obra traduzida por Crespo, destacando os diferentes modos como a questão da indecidibilidade impacta em sua leitura.