Inscrevendo-se no coração da cidade moderna como espaço de (re)encontro do homem com os animais e uma natureza cada vez mais distante, o zoológico institui-se, na realidade, como um espaço artificial de marginalização e confinamento animal, reforçado as fronteiras entre o humano e o não-humano. Pretende-se pois, neste trabalho, indagar o modo como esse encontro entre o homem e o animal – através da jaula – é representado no texto literário, espaço privilegiado de apreensão da animalidade, porquanto nele o escritor tenta fixar, pela palavra articulada, a subjetividade dos animais, entrar, pelos poderes da ficção, na sua pele, imaginar o que eles diriam se falassem, conjeturar acerca dos seus saberes sobre o mundo e figurar a sua humanidade. Tomaremos como corpus de análise o conto “O búfalo” de Clarice Lispector (Laços de Família, 1960) e a série “Zôo” de João Guimarães Rosa (Ave Palavra, 1970), interpretados à luz das reflexões teóricas de autores como Gilles Deleuze, Jacques Derrida e John Berger.
Tendo como corpus os contos Meu tio Iauaretê e O Burrinho Pedrês, de João Guimarães Rosa, pretendo apresentar o andamento de minha pesquisa sobre a representação de personagens literários em condição de humanização e/ou animalização. O estudo terá como fio condutor a análise sobre a “linguagem” e o “pensamento” como critérios determinantes para essa condição, tendo em vista o meu interesse em identificar os aspectos ou as circunstâncias que estabelecem a fronteira entre o humano e o animal. Para tanto, com a contribuição teórica de Norbert Elias e de Starobinski, proponho problematizar o conceito de civilização cuja definição está estritamente correlacionada a padrões de comportamento e à distinção social. Nesse sentido, procuro sustentar a possibilidade de que a fala organizada (bem como determinadas variações da língua) está associada a uma forma articulada de pensamento e, por isso, torna-se critério civilizatório e de humanização. Paralelamente a essa perspectiva, recorro às discus