Este artigo propõe abordar a presença de uma tradição da descontinuidade dentro do romance
Lavoura arcaica (1975), de Raduan Nassar, e do conto ―A terceira margem do rio‖ (1962), de João
Guimarães Rosa. A hipótese é de que ambas as obras mimetizam o choque entre a vontade do pai e o
desejo do filho. Dessa forma, tanto Lavoura arcaica como ―A terceira margem do rio‖ podem ser
tomados como textos que tematizam uma ruptura com a tradição familiar, interrompendo com isso o
fluxo vital de uma continuação, posto que os filhos, ao se escusarem à vontade do pai, também não
deixam descendentes, tornando-se estéreis. Como consequência tem-se o desaparecimento dos traços da
paternidade que testemunhariam uma existência, uma vez que os filhos seriam aqueles que protegeriam os pais da morte. Assim, a partir do instante em que se quebra esse fluxo contínuo instala-se uma nova tradição, calcada na descontinuidade.