O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.
Em nossa Dissertação de Mestrado, estudaremos, sobretudo, Meu tio o iauaretê, de Estas estórias, e, ainda, O espelho, de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Estes são os objetivos gerais do presente trabalho. Em relação ao primeiro relato (uma narrativa mais longa), temos como propósito específico efetuar a sua análise por meio da teoria do gênero fantástico desenvolvida por Tzvetan Todorov, a qual leva em conta os gêneros estranho e maravilhoso. Em relação ao segundo (uma narrativa bem menos extensa), o nosso intento específico é a sua abordagem a partir do maravilhoso. Também lançaremos mão de conceitos da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, na leitura de ambos os textos: noções como inconsciente coletivo, arquétipo, anima, animus, alma do mato (para Meu tio o iauaretê), si-mesmo ou self, persona e sombra (para O espelho). Não pretendemos, todavia, transformar os personagens das duas obras em casos clínicos, mas mostrar como aspectos da teorização junguiana, tal como ocorre com a de Freud, servem para iluminar a produção literária de um modo geral. Dois detalhes que funcionam como fatores de ligação das duas narrativas de Rosa são as presenças da figura da onça e do espelho nas páginas de ambas.