Neste artigo serão postas em diálogo as áreas literária e filosófica a partir do conto de Guimarães Rosa, O espelho e o pensamento do filósofo Martin Heidegger, mais precisamente no que tange às questões relativas à revelação e transformação do homem. No referido conto, apresentam-se pontos que coadunam com a vertente proposta por Heidegger, a saber, de que os conceitos não conseguem dar conta não apenas das questões, mas também da visão do homem sobre si mesmo, permeada de ilusórias perspectivas. Objetiva-se demonstrar que o homem afastou-se das questões que o cercam e permeiam o mundo, na tentativa de suprimir o incômodo gerado pela indefinição de si.
O presente trabalho tem como principal objetivo estudar as várias transformações do conto clássico “Chapeuzinho Vermelho” e, sobretudo, as transformações da personagem principal que dá nome à história. Tomando como base “Chapeuzinho Vermelho” (1812), dos Irmãos Grimm, e o seu desdobramento em três versões, “Fita Verde no Cabelo” (1964), de Guimarães Rosa, “Chapeuzinho Vermelho de Raiva” (1970), de Mário Prata e “Chapeuzinho Amarelo” (1979), de Chico Buarque de Hollanda, analisaremos as transformações da versão clássica até as suas versões modernas. Para isso, utilizaremos como apoio teórico principal tanto o estudo de Vladimir Propp em A Morfologia do Conto, para entendermos as funções presentes no conto tradicional, quanto Formas Simples, de André Jolles para entender a Forma Simples e a Forma Artística. Apoiando-se no que nos apresentam os dois teóricos, analisaremos a personagem Chapeuzinho nas diferentes versões, suas mudanças juntamente com as transformações do conto.
Esta tese propõe uma transposição da teoria da tradução articulada pelos poetas concretistas para a interface entre a literatura e o cinema. Ao investigar a relação entre esses dois sistemas semióticos, esta pesquisa percebe que o encontro entre a literatura e o cinema antecede o surgimento do cinema narrativo e, portanto, pode ser pensado sob outras perspectivas, que não a narrativa. A análise é feita a partir do filme Mutum (2007), de Sandra Kogut, que dialoga com a novela Campo geral (1956), de João Guimarães Rosa. Mutum atualiza o texto rosiano e, como continuidade desse texto, permite que ele seja revisto através da realização do filme. Enquanto um eclipse, o movimento do filme age como uma camada que, durante um tempo definido, sobrepõe-se ao texto literário, e traz a ele nova dimensão: ao texto acrescenta cortes móveis da experiência. A análise da operação tradutória ocorrida de Campo geral a Mutum aponta para a possibilidade de a experiência do cinema ser vista como expansão do campo literário. Inicialmente, o filme Mutum é tratado por esta tese como uma transformação material da novela rosiana. Em seguida, aborda-se a tradução como possibilidade de extensão ou continuidade do texto literário e, finalmente, a traduçãoé vista como um processo de subtração ou con-fusão. Curiosamente, a operação de subtração das camadas críticas que revestem o texto acabou levando o filme a encontrar a poética do escritor mineiro enquanto uma poesia do menos. Portanto, esta tese parte de uma percepção do filme como metamorfose do texto literário e termina apontando para a tradução fílmica como um processo que caminha emdireção àquilo que, apesar de toda metamorfose, mantém-se inalterado: a letra.