texto: Circe Bonatelli
Fotos: Francisco Emolo

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Jorge Maruta
“Em primeiro lugar não está o medo da gravidez ou o risco de doenças sexualmente transmissíveis. Primeiro vem o medo de não agradar o parceiro”, afirma a médica Albertina Duarte Takiuti sobre os/as adolescentes.

 

 

 

 

 

Jorge Maruta
Jovens confirmam saber como se prevenir durante as relações sexuais, mas acabam se expondo por causa de “emergências”.

Ingredientes que expõem os jovens na hora H

A gravidez precoce e a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis em jovens com menos de 20 anos estão mais relacionadas à baixa auto-estima do que à falta de informação.

Quem chega a essa conclusão é a equipe da Casa do Adolescente, programa criado pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo nos anos 90 para prestar atendimento médico e psicológico a adolescentes de ambos os sexos, entre 10 e 19 anos.

Eles divulgaram uma pesquisa mostrando que 67% das garotas entre 10 e 20 anos são insatisfeitas com o corpo. Outras 37% têm vergonha do físico e se afastam do convívio social (deixam de sair com os amigos, têm timidez excessiva e tristeza constante) por causa disso.

“Os adolescentes não têm falta de informação. No século 21 isso é impossível”, afirma Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde da Adolescente e professora da Faculdade de Medicina da USP.

“Se as meninas têm vergonha do próprio corpo, elas não negociam. Elas não têm coragem de falar de suas emoções e sentimentos. Elas não têm coragem de dizer: sem camisinha eu não transo”, continua a professora.

“Em primeiro lugar não está o medo da gravidez ou o risco de doenças sexualmente transmissíveis. Primeiro vem o medo de não agradar o parceiro. E o menino também é assim, só que o medo é o de falhar. Por isso aceitam qualquer migalha de amor, porque procuram aprovação”, arremata Albertina.

Aprovação x informação

A Casa do Adolescente, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, promoveu uma roda de bate-papo entre os jovens e educadores para falar do assunto. Camila, 16 anos, participou da conversa e contou que já se expôs precipitadamente. “Desde o começo do ano, eu já tomei a pílula do dia seguinte por duas vezes. Eu sei que não é certo tomar essa pílula sempre, mas foi caso de emergência”, disse, mesmo concordando com o uso de outros métodos contraceptivos, como preservativo e anticoncepcional.

Mirian, 14 anos, retrucou: “Eu acho que a gente tem que pensar bem antes de fazer qualquer coisa. Depois que já foi, tem que agüentar as conseqüências”, argumentou, condenando a pílula do dia seguinte.

Na USP, os adultos também dão seus pareceres: “Acho que não é bem falta de informação, é falta de princípios. A educação começa em casa e os pais precisam orientar mais as filhas. Hoje, elas estão mais atiradas porque se iludem com o que aparece nas novelas”, opina Iracema da Silva, mãe, avó e funcionária da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo).

Carlos Ramos, do IP (Instituto de Psicologia) concorda que não falta informação. Pai de dois moços que já ultrapassaram os 20 anos, ele entende que muitas vezes há falta de diálogo na família: “Eu nunca deixei meus filhos sem respostas. Eles têm o livre-arbítrio e, na minha opinião, nunca erraram nesse ponto”.

 

 
 
 
 
 
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