texto: Circe Bonatelli
Fotos: Cecília Bastos

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“A maior riqueza que a gente pode deixar para os filhos é o estudo”, garante Carla, mãe de Ana Tereza

 

 

 

 

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Code switch: o cérebro se ajusta para falar a língua de quem está ouvindo


Crianças bilíngües têm organização cerebral diferente

Em casa, ninguém fala espanhol, francês nem mandarim. Só a pequena Ana Tereza, de 11 anos, que também já foi alfabetizada em português e inglês. “Difícil, mãe? Mas por que você acha difícil?”, pergunta, na simplicidade da infância. A educação bilíngüe e o aprendizado de outros idiomas ainda no início da vida não deixam as crianças confusas, como já se acreditou nos anos 60 e 70. Muito pelo contrário: quando o ensino acontece com naturalidade e respeito ao tempo da criança, é possível até encontrar casos raros, como o de Ana Tereza.

“E foi ela mesma que pediu para fazer mandarim. Achei isso o máximo”, diz Carla Gorga, mãe da garota-diplomata. “Ela tem a mente muito aberta, deve ter ouvido falar da China e pediu para estudar essa língua desde o ano passado.”

Apesar do aumento na demanda por escolas bilíngües, o preço ainda restringe os louros do poliglotismo às famílias classe A ou AA. Um colégio do gênero, que atua em período integral, custa pelo menos R$ 1.500, em São Paulo – bem salgado.

E não há como comparar essas despesas com o investimento em uma escola convencional somada ao curso de idiomas feito à parte. Seria como igualar futebol de salão ao de campo: o objetivo é o mesmo, fazer o gol. No entanto, as habilidades são muito diferentes.

“Existe sim uma diferença na organização cerebral de quem é bilíngüe desde pequenininho (antes dos três anos), e de quem aprendeu a segunda língua depois dos 10 anos”, confirma Elizabeth Flory, psicóloga e pesquisadora do IP (Instituto de Psicologia).

No primeiro dos casos citados, a região do cérebro ativada é a mesma para qualquer um deles. Já no caso de pessoas que se tornaram bilíngües só depois de já alfabetizadas na língua pátria, os hemisférios cerebrais sensibilizados são diferentes.

“Crianças que convivem com o bilingüismo desde cedo podem adquirir as duas línguas como se fossem a primeira, a materna”, explica Elizabeth.

Segundo a pesquisadora, é comum, por exemplo, haver a mistura de palavras e formas de concordância nas primeiras frases faladas durante a infância. Porém, isso não significa que as crianças estão confusas ou tiveram algum problema no aprendizado.

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