Anos 1980: a pequena grande história do vôlei masculino de Piraju

Laura Barrio*

Um dos maiores campeões da história do vôlei nacional, Bernardinho disse em entrevista à RedeTV, em 2011, que a Geração de Prata foi responsável por levar a modalidade a espaços até então inexplorados. “O voleibol deixou de ser uma coisa meio de elite, meio fechada, para realmente atingir o grande público, a grande massa de praticantes e seguidores”, declarou, referindo-se aos feitos da Seleção Brasileira de Voleibol Masculino da década de 1980.

Bernardinho não especificou, mas poderia estar falando de Haroldo Rocha, Mário Júnior, Márcio Pansanato e outros tantos meninos pirajuenses que, pela primeira vez, se viram diante da possibilidade de praticar uma modalidade que não fosse futebol nem basquete.

Geração de Prata mudou o paradigma do vôlei nacional / Foto: Agência O Globo

Essa geração de encantados pelo time brasileiro — comandado por Bernard, Renan, Montanaro, William, Xandó, Amauri, entre tantos craques — formou um time que brincava nas aulas de Educação Física e nos recreios na Escola Nhonhô Braga. Mais tarde, os garotos, unidos àqueles vindos de outros colégios, passaram a jogar no Iate Clube Piraju, onde conseguiram uma quadra para treinar. O grupo contava com Rodrigo Pinheiro, Gilson Monteiro, Luciano Bérgamo, Marcio Pansanato, Ciro Nakashima, José Luiz Sacramento Morales, Jackson Teixeira, Serginho Luiz Cavalheiro, Romildo Borella Júnior, Mário Santana Júnior, Haroldo Rocha, Ruy Novaes Gomes, Luciano Pansanato, Paulo Araújo, Adolfo Cruz Mello, entre outros que desvendaram os segredos e as belezas do vôlei.

No comando dos garotos estava a jogadora e treinadora Sara Jane Stolsis  Zanforlin — “uma técnica exigente na parte física e excelente na parte técnica”, recorda Haroldo. Acompanhando a evolução e o potencial do time, Sara decidiu procurar a Prefeitura e, assim, conquistou um espaço para treinamento no Ginásio de Esportes da cidade. 

Após quase quatro anos fechado, o Ginásio de Esportes Cyro Barreiros foi reformado e entregue à população em 2019 / Foto: Prefeitura da Estância Turística de Piraju

O treino era puxado e noturnos, três vezes por semana, das 22h à meia-noite. O esforço dava resultado: Mário chegava a um metro do chão com seus saltos e Haroldo, levantador de 1,70m de altura, passava com o peito pela rede de 2,45m. “Para compensar a estatura mediana do time, às vezes os treinos duravam até três horas”, recorda Mário Júnior.

Haroldo Rocha ainda lembra que Sara, para aperfeiçoar o fundamento, pedia que os meninos dessem 500 toques com uma bola de capotão e outros 500 com uma bola de futebol de salão. “Quando a gente pegava a bola de vôlei, o toque atravessava a quadra inteira com facilidade. O time era diferenciado.”

A qualidade destacada da equipe pirajuense não foi suficiente para levá-la aos Jogos Regionais. Segundo Rocha, a Prefeitura não liberava verba, apesar da possibilidade real de títulos. “Foi uma desilusão”, recorda, destacando também que a frustração não apagou o brilho dos atletas.

Em jogos contra equipes da região, o time pirajuense encantava e chegava a incomodar os grandes do interior, conta Márcio. O atacante, que jogava na saída de rede, guarda na memória uma partida que jogou contra os veteranos de Piraju: “Quiseram uma disputa com as crianças e tomaram um pau. A gente estava num nível muito superior”. Já nos amistosos dentro do município, o time titular se dividia entre os dois lados da quadra para não desequilibrar a disputa.  

Como os meninos eram alguns dos melhores jogadores da região, passaram a ser escalados por times de cidades vizinhas para disputar campeonatos do interior. Haroldo Rocha, por exemplo, jogou por Ourinhos e Fartura. Mário Júnior também defendeu a camisa do Ourinhos, chegando a jogar nas finais do campeonato estadual de 1985, para o qual se classificaram as 13 melhores equipes de São Paulo.

Assim, aos poucos, cada um foi seguindo um caminho distinto e o projeto do vôlei pirajuense foi esmaecendo. 

Haroldo se afastou da modalidade e deixou Piraju. O esporte, porém, continuou correndo em suas veias. Mais tarde, se tornou secretário de Esportes em Sarutaiá. Anos depois, se reencontrou nas quadras, jogando pelo time do curso de Educação Física  da Faculdade Anhanguera, em Bauru (SP). Atuando como líbero, foi campeão por dois anos consecutivos, eleito melhor jogador em quadra. Hoje, ele é professor de Educação Física e empresário em Bauru (SP).

Outro que seguiu a prática no time universitário foi Márcio Pansanato, que saiu de Piraju para estudar veterinária na Universidade Federal do Paraná e hoje mora em Curitiba. Segundo ele, o vôlei foi fundamental na “formação do caráter” dos atletas. “Éramos muito rígidos em relação aos valores éticos, morais e educacionais.” Ele acredita ser também por isso que os meninos mais novos, que vieram depois e mantêm o vôlei vivo na cidade, admiram e respeitam tanto seus antecessores.   

Tendo se iniciado no esporte com apenas 11 anos, Mário Godinho Santana Júnior parecia ter um futuro promissor no esporte. Convidado a jogar pela Associação Luso Brasileira de Bauru, chegou a treinar com a equipe, mas precisou abandonar devido às lesões nos dois braços. O ex-jogador reconhece a importância que o vôlei teve em sua vida e na de tantos outros jovens: “É difícil não esbarrar em clichês, não dizer que o esporte é maravilhoso, aumenta a autoestima, traz referência de espírito colaborativo e companheirismo”, finaliza. 

Após se formar em Técnico de Eletrônica na Escola Técnica de Eletrônica, em Ipaussu, Mário buscou outro caminho: ser facilitador na Constelação Sistêmica Familiar trabalhando como terapeuta por meio da técnica baseada no campo morfogenético de Rupert Sheldrake e Bert Hellinger. 

Os craques do voleibol masculino de Piraju tomaram outros rumos na vida, mas a magia do esporte ficou marcado na memória de cada um, igual ao sonho de muitos jovens pirajuenses, como resume a professora Sara: “Alguns meninos tinham muito talento e poderiam ter alcançado o sucesso no vôlei”.

Haroldo Rocha emoldurou a reportagem do Registro Digital de Piraju (Arquivo Pessoal)

DEPOIMENTOS DOS ATLETAS:

Sérgio Luiz Cavalheiro (Técnico Contábil): 

“Realmente foi uma das melhores épocas da minha vida, jogar Vôlei por Piraju, tínhamos que treinar no último horário, das 22:00 às 00:00, três vezes por semana. Fazíamos rifas para comprar bolas, pois não tínhamos tanto apoio da Prefeitura. Participamos de campeonatos na região de Piraju e regionais, com a treinadora Sara. O mais importante foi as amizades adquiridas durante esse tempo.”

José Luiz Sacramento Morales (Agente Penitenciário):

Gilson Monteiro (Profissional de Logística):

Ciro Nakamura (Engenheiro de Telecomunicações):

Romildo Borella Júnior (Gerente de Projetos):

OBS.: Os jogadores do time de voleibol de Piraju podem enviar os seus depoimentos para alterjor@gmail.com para publicarmos nesta matéria.

*Laura Barrio é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

2 thoughts on “Anos 1980: a pequena grande história do vôlei masculino de Piraju

  • 14 de abril de 2021 em 16:45
    Permalink

    Muito pequeno e miudo rsrs eu ficava no ginástica de esportes vendo os treinos.
    Eles tinham raça, determinação, vontade de jogar. Queria parabenizar os organizadores dessa matéria, passou um filme na memória. Parabéns de coração. Obrigado por esse presente.

    Resposta
  • 14 de abril de 2021 em 17:46
    Permalink

    Fantástico !!!!!!!

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *