Oficina: fotografia como ferramenta da alfabetização midiática

Por Luísa Hirata e Leonardo Corey Belleza

A oficina “A fotografia como extensão em sala de aula”, ministrada pelo Prof. Dr. Wagner Souza e Silva (USP) foi realizada no dia 30 de junho, às 19 horas, com transmissão ao vivo pelo canal do CJE no YouTube. 

Silva é docente de fotografia do Departamento de Jornalismo Editoração e presidente da Comissão de Cultura e Extensão na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Atualmente, atua também como pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação.

“Uma ferramenta da construção do conhecimento, da identidade e subjetividade das pessoas” é a forma como o professor analisa a fotografia, ou seja, um meio que permite organizar a maneira como observamos o mundo. Não só isso, ela é a “âncora filosófica” para se pensar como despertar nos alunos a importância de se investigar e experimentar propriamente outros pontos de vista sobre as coisas. Ou seja, uma experiência particular  diante do protagonismo das telas na vida dos jovens, tecnologias “inevitáveis” que precisamos aprender a utilizar a nosso favor.

O docente ressalta que existe uma percepção forte por parte do senso comum de que o domínio da fotografia se baseia em sua dimensão tecnológica, mas, na realidade, todos os equipamentos possuem o mesmo princípio de funcionamento. Por isso, não há algo como uma câmera é melhor que a outra por ter recursos técnicos mais avançados. O fundador da Kodak, George Eastman, tinha como proposta, cita Silva, permitir justamente que as pessoas produzissem imagens sem se preocupar com a parte técnica, o que é expresso em seu slogan “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”. 

Hoje, com os celulares, a fotografia é muito mais democratizada. “A gente carrega nas mãos todas as imagens do mundo”, afirma Silva, que defende que elas são tão importantes em nossas vidas que o que temos não são celulares com câmera, mas “câmeras com celular”.

Pode-se pensar que há um exagero na quantidade de imagens circulando, mas Wagner Souza e Silva não vê isso como problema. “Não podemos escapar de suas projeções nem sequer quando fechamos os olhos, quando sonhamos”. Todavia, ele faz uma ressalva: “é urgente pensar na nossa participação nesse ambiente; na maneira como estamos presentes nesse processo de captação”.

O professor contou, explicando a história que envolve fazer o clique, que a guerra do Afeganistão foi uma das primeiras ocasiões em que o celular foi utilizado num ensaio fotográfico com grande repercussão. Isso marcou uma virada importante por permitir que o fotógrafo trabalhe outros pontos de vista, posições, ângulos, e burle a visão mais imediata do ofício, como fez Aleksander Rodtchenko. 

Silva descreveu quatro exercícios para os professores praticarem com os alunos. O primeiro é não fotografar, mas desenhar num papel recortado no formato de um retângulo, que é o enquadramento das fotos, e pensar em como construir uma narrativa. Já o segundo é, numa roda de alunos em torno de um mesmo objeto, cada um assumir uma posição diferente e fazer o clique,  pois isso pode gerar novos pontos de vista. O terceiro é o da foto cega, em que você tira a foto sem olhar para o cursor, deixando-se surpreender com o que a câmera pode construir. Por fim, o quarto é tentar descrever, denotativa e conotativamente, a foto, pensando em “quantas palavras cabem numa imagem?” e nas emoções que ela nos provoca.

O terceiro em especial mostra que a fotografia pode sim atestar determinado tema, mas “esse atestamento sempre deve ser questionado”, avisa o professor, caracterizando-o como elemento-chave da alfabetização midiática, já que é impossível capturar a totalidade do que está sendo observado – o que existe é uma constante construção de sentido.

O professor deixa três indicações de referências: A ilusão especular, de Arlindo Machado, Filosofia da caixa preta, de Vilém Flusser, e Olhares comprometidos: fotografia e identidades no MST, de Rodrigo Rossoni, que, em especial, traz a relação da fotografia com a educação a partir de um trabalho empírico com crianças num assentamento do Movimento Sem Terra.

Ao final, Silva respondeu perguntas dos professores no chat do YouTube. Uma tratava da possibilidade de se pensar na fotografia como linguagem, ao que o professor respondeu que as fotografias são “meios de expressão mais selvagens”, sem regras muito bem definidas, por isso não podem ser comparadas ao texto. 

Outra pergunta foi como ser criativo dentro da sala de aula. Ele diz ser “um desafio”, mas que é possível: é preciso fazer com que os alunos observem a distribuição dos elementos que podem render informação visual e exigir deles um olhar experimental.

Sobre a diferença entre imagem e fotografia, Silva diz que esta é “uma das tentativas de domar o universo das imagens, uma maneira de organizar o espaço visual.”

Por fim, o professor afirma  não acreditar em dom. “Todo mundo consegue [independentemente disso], tanto que os alunos acabam produzindo um material interessante achando que estão fazendo coisas erradas”. Ele destaca a importância de ter consciência do que se quer fazer durante o clique. “[Dessa forma] Você tem maior aptidão para dominar [a arte]”. 

O evento é o terceiro da oficina “Registro Digital da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju – desenvolvimento das habilidades comunicacionais no Ensino Fundamental I e II”, iniciativa que nasce da parceria entre a Prefeitura da Estância Turística de Piraju e o projeto USP Municípios. O professor Wagner Souza e Silva já visitou duas vezes a cidade para realizar oficinas, e ele afirma querer trazer as contribuições da ECA-USP para o interior do Estado. 

A próxima edição acontecerá no dia 28 de julho, às 19h, com a temática “O texto e a qualidade da informação online”, ministrada pelo Prof. Dr. Dennis de Oliveira em transmissão ao vivo no canal CJE do YouTube.

Confira a terceira oficina do projeto “Registro Digital da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju – desenvolvimento das habilidades comunicacionais no Ensino Fundamental I e II”

Luísa Hirata e Leonardo Corey Belleza são repórteres e bolsistas do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

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