Amor de Biblioteca

A biblioteca municipal de Piraju é o lugar mais gostoso da cidade. Quem gosta de ler, pelo menos, não discorda. Tem livro bom, tem livro ruim, tem uma estante só de autores pirajuenses, tem apostilas de escola provenientes de doações de praticamente todos os estudantes que a cidade já teve, tem alguns achados – livros de ótima qualidade e que na loja custam caro -, tem revistas velhas, tem um cheiro característico e delicioso de papel (que contraditoriamente pode dar rinite nos narizes mais sensíveis), tem habitués bacanas (outros nem tanto), tem sofá, tem até um piano que ninguém toca.

Com o nome de “Flamínio Ferreira”, cidadão culto que marcou a cidade em tempos passados, a biblioteca fica no subsolo do cinema, na Rua Washington Osório de Oliveira. Fica protegida dos ruídos terríveis dos carros que passam e buzinam barulhentos pelo centro. Com as portas abertas, fica iluminada e ventilada. E ainda tem gente que reclama de porão tão bem localizado.

Amada pelos seus frequentadores – e talvez por isso ainda resista nesses tempos de exaltação da burrice coletiva -, a biblioteca, toda ela, espalha amor. Especialmente num dos cantos do fundo, que acomoda umas tantas prateleiras repletas de… Sabrinas!

Sabrinas, Julias, Biancas, Barbaras e livretos com histórias de romances água-com-açúcar que faziam a cabeça da mulherada décadas atrás. Livros que podem ser lidos numa tarde de chuva, com mocinhas sensíveis, machos alfa, vilãs gostosonas que usam seus atributos físicos para seduzir o marido da outra. Estruturas de novela mexicana, enredos às vezes machistas e bobos, histórias criadas especificamente para um público feminino criado para idealizar um amor que na vida real nem existe.

São esses romances cor-de-rosa e aguados que ocupavam as prateleiras das vovós que constituem uma das coleções mais robustas do acervo da nossa biblioteca. Segundo os funcionários da biblioteca, são dos que mais saem. O público ainda adora ler Sabrina! (e o que são Crepúsculos, Tons de Cinza e tantos outros senão Sabrinas contemporâneos e estendidos?).

Bom saber que ainda tem quem leia livro físico. Bom saber que a biblioteca de Piraju resiste. Bom saber que tem quem contribua com o acervo da biblioteca Flamínio Ferreira por meio de generosas doações de livros bonitos e gostosos de ler.

Mesmo que seja pra ler um Sabrina amarelado, visite a biblioteca. E acima de tudo: defenda a biblioteca, sempre!

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