Amargo na língua (versão 1 de 2021)

Na contramão,
No contratempo,
Encruzilhada, no duplo sentido.

Amargo na língua.

No caminho mais fácil,
Nos obstáculos,
A verdade e a mentira

Amargo na língua.

Opinião contra a certeza,
Nos meninos do bairro,
No medo da dívida.

Amargo na língua.

Na rotina do medo,
Do vencedor solitário,
Das palavras de méritos

Amargo na língua.

Para aqueles que são mais fortes,
Para os mais fracos,
Para os pobres miseráveis,
Para os ricos insensíveis

Quem acostumou com o açúcar no céu da boca,
Parou na linha de frente e não soube reagir,
Repouso e analise,
Até mais que o necessário para se confundir,
Amargo na língua,
Para espantar esse conforto.

No contrapé contra as próprias correntes.
Amordaçados, sem pestanejar.
É só uma questão de opinião.
Amargo na língua para quem pega o caminho mais curto.

Somos jovens e sem experiencias de vida.
Do que estávamos falando na mesa do bar?
Era sobre lutar e lutar, mas não chegar a nenhuma vitória
Amargo na língua pra quem vive de méritos.

Cabo de aço,
Cabo frágil,
Arrebenta-se quando um corpo sai do lugar.
Amargo na língua para os que são carregados.

O café forte, o sal do mar.
O último cigarro… fim do mundo.
Amargo na língua para os que não querem entender.
E ter o mínimo não é suficiente.
Ter o dobro não é interessante.
Queremos ter tudo.
Arte, amor, harmonia e pelo menos uma hora de paz.
Amargo na língua no fascismo cultural.

Amargo na língua contra os antigos costumes.
“Deus está morto…” Virou fonte de renda.
E a fonte de água secou já faz um tempo.

O vírus, a fome, a peste, a sede.
O colapso, o rapto, o laço.
A derrota, a vitória, o status quo.
Amargo na língua.

A progressão está nos pequenos passos.
O atrito e a atração.
O abuso, o excesso, a sanidade.
Amargo na língua para quem já perdeu o amor.

 

* Pasqualin é escritor e ativista cultural.