Geringonça

estou para menos de geringonça!

perdi as rodas da viagem homem
e empaquei neste olhar distraído
das árvores
dos bichos
das coisas
de tudo que é mineral ou vivente

estou mais vendo aquilo
que fica para trás de mim
na passagem desse comboio insólito

alimento-me de um desassossego
e de um tempo que falta
onde pouco importa as falas
ou o ganido sonso desses cães sem dono
às margens da minha rota

para todo lado, os olhos,
arregalam um espanto
sem a tradução dessas bocas
que abrem e fecham mensagens mudas

estou para menos de geringonça eu sei
boneca sem braço, carrinho sem mola.

* Carlos Alberto Muzille é escritor e ativista ambiental e cultural.