Tirolesa das Corredeiras em Piraju: as belezas naturais vistas do alto

Isabella Marin *

As corredeiras de Piraju são um grande espetáculo de beleza que a natureza nos proporciona. Os sete quilômetros e meio de águas limpas podem ser vistos a partir de alguns pontos da cidade, mas, desde o início de 2020, um novo local foi incluído na lista: agora, também pode ser apreciado das alturas! 

O lugar em questão é a Tirolesa das Corredeiras, que fica no Mirante Gilberto Polenghi e desce até o Parque de Exposições Prefeito Cláudio Dardes (FECAPI). Classificado como uma prática na qual a pessoa consegue se mover de um lado para outro ancorado por uma corda, a atividade garante aventura e lazer. No caso da tirolesa na cidade, é feita a utilização de duas cordas para a descida, o que garante maior segurança e estabilidade durante os seus 493 metros de extensão. O ponto mais elevado da tirolesa se encontra exatamente acima do Rio Paranapanema, a 81 metros de altura, praticamente o mesmo comprimento de um prédio com 25 andares, podendo chegar a uma velocidade de 65 km/h. 

Imagem de criança descendo na Tirolesa das Corredeiras em Piraju. [Imagem: Divulgação/Tirolesa das Corredeiras]

Essa tirolesa, diferente de muitas outras, guarda um detalhe especial em sua estrutura: é urbana, como explica o economista Paulo de Tarso Barberio, empresário responsável pela Tirolesa das Corredeiras. 

“Quase todas as tirolesas no resto do Brasil estão dentro de parques temáticos ou em áreas rurais, fazendas. Eu não conheço nenhuma que seja numa área urbana, que atravessa praticamente toda a parte central da cidade. É uma tirolesa única no Brasil e eu diria que ela é única como uma tirolesa urbana, uma das únicas do mundo”. Com isso, a estrutura recebeu um diferencial para deixá-la ainda mais futurista: a construção foi com muito ferro ao invés da  preferência comum pela madeira. Confira o vídeo de sua construção:

Paulo Barberio está a frente da Tirolesa das Corredeiras e é pirajuense. Na infância, gostava muito de explorar as riquezas de sua cidade natal, atravessar o rio e pular de cachoeiras. Desde essa época, o gosto por esportes de aventura já era presente, porém nem sempre feito da maneira correta. Em muitos momentos, Barberio não utilizava nenhum tipo de equipamento de segurança ou algo que assegurasse maior confiabilidade em suas aventuras. Hoje, em seu empreendimento, a segurança dos turistas e dos praticantes é uma preocupação, o que fez com que garantisse dispositivos e equipamentos modernos.

Ao visitar a tirolesa, é nítida a preparação que há para receber os turistas. Já na entrada, é possível notar uma tela que acompanha a chegada daqueles que fazem a descida. Todos os monitores ficam com aparelhos de rádio para se comunicarem quando uma pessoa vai saltar e para que preparem o freio. Esse freio, na verdade, está sempre pronto: é a estrutura moderna dos freios ABS, que param automaticamente o praticante com suas molas e colocam a pessoa no ponto exato em que ela irá descer, pela escada.   

Barberio comenta que a proposta era fazer um esporte de aventura que unisse adrenalina e segurança ao mesmo tempo. “A ideia é que você fique com medo mesmo para sair, trave um pouco, porque se não tiver medo nenhum a gente também não vai ficar fazendo todo esse circo para todo mundo descer na tranquilidade. Tem que ter mesmo a adrenalina, tem que ter essa composição entre medo e segurança, que é quando você está lá no meio e fala assim ‘poxa, tô super seguro, tô estável’, esse é o objetivo.” 

A ideia de construir uma tirolesa na cidade surgiu de sua irmã, Maria Fernanda Barberio, arquiteta que atua dentro do departamento de engenharia da prefeitura focada em obras de caráter turístico. Fernanda, após fazer uma visita à tirolesa de Ribeirão Claro, considerou fazer uma construção parecida em Piraju, e, em conversa com outros departamentos da prefeitura, conseguiu viabilizar uma licitação que concedia um espaço público à tirolesa. A partir daí, a cidade contratou uma empresa em Umuarama, no Paraná, para fazer a avaliação dos possíveis locais de sua construção. Depois de muito estudo e avaliação, encontraram um ponto ideal de desnível que ligava o mirante e o recinto da FECAPI. Porém, precisavam ainda de alguém que resolvesse assumir toda obra. O tempo foi passando e poucos dias antes de fechar o processo licitatório, Barberio demonstrou interesse. A construção começou já em 2019 e foi inaugurada em fevereiro de 2020. Por causa da pandemia do coronavírus, a tirolesa ficou fechada a partir de março e retornou em agosto, com os devidos cuidados. 

A inauguração foi um sucesso na cidade e também fora dela. No início das atividades, era publicado na página do Facebook um gráfico relativo à quantidade de visitantes e sua origem. Uma preocupação era se aqueles que já tinham experimentado o salto de tirolesa em outras cidades também viriam ter essa experiência em Piraju. A resposta surpreendeu Barbeiro: quem mais vem na tirolesa é justamente quem já praticou outras. Segundo ele, isso se deve porque quem faz uma descida numa tirolesa quer conhecer como é vivenciar outra.

“Andar numa tirolesa é uma coisa única. Cada tirolesa tem sua especificidade, seu visual, velocidade, equipamento, sua emoção, sua experiência com os monitores, com o local. Eu diria que nenhuma tirolesa é igual”, reforça Barberio. 

E a Maria Paula Barroso concorda. A estudante pirajuense de 18 anos já tinha ido em uma tirolesa antes em Balneário e gostou experiência. “Amei demais, amo uma adrenalina, sentir o vento, poder ver coisas em ângulos diferentes. Foi isso que senti quando fui na de Piraju! Sinceramente, eu achava que iria ser chato, que não ia ter graça mas me enganei. Foi incrível!”. Segundo ela, apesar da parte técnica das tirolesas serem muito semelhantes — os equipamento, por exemplo — cada uma teve sua própria essência: “Na primeira, não tive medo, acho que apenas agitação para ver como seria, e nessa não foi diferente. Nela, todo o percurso é em cima de árvores, o que é uma sensação maravilhosa. Na de Piraju, é acima do rio, o que também é uma sensação maravilhosa. Mesmo sendo da mesma forma, o trajeto muda completamente. Acho que nunca vou me acostumar com a sensação de me ‘jogar’ de um lugar alto”.

Quem também conta como foi fazer a descida é o Vinicius, de Jundiaí-SP. O garoto de 15 anos relatou já ter feito a descida uma vez na sua infância, mas era uma tirolesa pequena para crianças. Ele ficou sabendo por meio da sua tia, que é de Piraju e o convidou para ir lá. Vinicius disse, após fazer a descida, que a vontade que fica é a de ir de novo e andar várias vezes, um passeio muito gostoso. “Deu um pouco de medo na hora que passa pelas árvores assim, quando sai da plataforma, mas depois é tranquilo. Me senti seguro.”

Em Piraju, o que não faltam são histórias para contar e, também, se admirar. O Sr. Anezio Sabatine, por exemplo, tem 88 anos e ganhou uma descida gratuita na tirolesa por ser o mais experiente do local. Como cortesia, recebeu ainda o ingresso com seu nome e data de aniversário escritos. Junto a ele, teve também Luzia Sampaio, 69 anos, moradora conhecida na cidade. “A gente brinca aqui que cada descida dos idosos eles ganham 10 anos”, comenta Barberio. A dona Luzia foi com 69 e voltou com 59. 

As histórias do Sr. Anezio e da dona Luzia provam algo que o João Gabriel Milani, de 18 anos, acredita: esportes radicais são uma forma de terapia. O estudante pirajuense saltou de tirolesa pouco depois de sua inauguração, em fevereiro, e descreve sua experiência como libertadora. Apesar de já gostar e ser praticamente de esportes radicais, ainda é preciso coragem para realmente se “jogar”. “[Quando você] ‘se joga’ na tirolesa, como eles falaram para fazer, parece que você quebra uma barreira de medos na sua vida. Quando você decide descer, isso te encoraja a enfrentar certos rumos na vida profissional e pessoal. Eu acho que esportes radicais são terapias para um certo grupo de pessoas. Então, esses esportes te fazem enfrentar seus medos e, o que é mais gostoso ainda, é poder admirar as belezas da natureza, como o Rio Paranapanema, o principal ponto turístico de Piraju.”

A tirolesa também faz festa entre a criançada. Sem restrição de idade, a única atenção necessária é quanto ao peso: apenas a partir de 30 kg é permitida a descida, caso contrário é perigoso parar no caminho. Mesmo entre os pequenos, quem faz mais descidas são as mulheres. Elas fazem praticamente sete em cada dez descidas no local, seja criança ou adulta. 

Um exemplo desse índice é a Maria Beatriz Sanchez, psicopedagoga natural de Presidente Prudente-SP. Enquanto o parceiro aguardava no local de partida porque não teve coragem para descer, Beatriz foi na tirolesa e ainda afirmou que iria de novo, com certeza: “Nunca tinha descido de tirolesa, só escaladinha pequena, até criança consegue, mas eu nunca tinha ido. É a primeira vez e gostei bastante, iria de novo.” A psicopedagoga de 28 anos conheceu a cidade pela sua fisioterapeuta que veio passar um tempo na região. Com a indicação de Piraju, de suas cachoeiras e outras atividades de aventura, Beatriz resolveu visitar. “A cidade é muito acolhedora e gostei bastante do pessoal daqui, tanto de quem já mora aqui tanto as pessoas que encontrei no hotel, foram bem acolhedoras e receptivas. Pretendo voltar, é uma cidade que eu não conhecia e ganha de muitos litorais por aí.”

Agora, para aqueles que não tem coragem de descer, como o namorado de Maria Beatriz, podem ficar no local aproveitando a vista ou saboreando os pratos que há no container bar. Dentre diversas delícias, Paulo Barbeiro procurou trazer também um pouco da cultura pirajuense. Com um cardápio rico, tem desde porções com os peixes da região e iscas de tilápia até bebidas como a vaca preta, uma mistura de sorvete com refrigerante.

Eu, Isabella, também tive a oportunidade de fazer um salto na tirolesa. Não só um como dois. O primeiro foi ao entardecer, no pôr do sol, uma experiência incrível. Na descida, temos uma visão ampla que une toda a natureza a nossa volta, as corredeiras percorrendo seu caminho e o vento no rosto. Em um primeiro momento, dá um pouco de medo para saltar por ser um ponto muito alto. Mas, conforme vai descendo, a sensação de segurança fica bem evidente e vai perdendo o medo aos poucos. Já a segunda vez, foi um salto noturno, o que me possibilitou ver todas as luzes da cidade e a iluminação da barragem do Rio Paranapanema. Em noites de lua cheia, as águas refletem a luz da lua, uma visão impressionante. Em outras, quanto estão soltando muita água da barragem, é possível ver as espumas que se formam pela força das corredeiras e seu brilho. Mesmo quem desce todos os dias, como alguns dos monitores, contam que cada salto é único por suas pequenas particularidades, provando a todo instante quão linda a cidade de Piraju pode se provar.  

Apesar da tirolesa ser um sucesso atualmente, Barberio confessa que há algumas alterações que pretende incluir. O salto para cadeirantes é uma delas. O espaço já é adaptado para receber pessoas com dificuldades de locomoção, como a entrada e o banheiro específico para pessoas com mobilidade reduzida. Para tornar realidade o voo, falta somente o equipamento que prende, ao mesmo tempo, o corpo e a cadeira. “Se Deus quiser e daqui uns cinco meses aproximadamente, quando a gente tiver estabilizado esse processo inicial, vamos começar a fazer o de cadeirante. É um sonho trazer essa alegria para quem, normalmente, não pode ter a oportunidade”. Outra vontade é fazer o salto apelidado como homem morcego, onde muda apenas o local onde fecha o equipamento. 

Para aqueles que pretendem visitar a Tirolesa das Corredeiras e apreciar a cidade de Piraju do alto, confira mais informações (dados referentes ao dia 30/10/2020):

Horário de Funcionamento:
Sexta: 16h às 22h
Sábado: 14h às 22h
Domingo: 10h às 18h 

Valores (todos com transporte de volta) 
Uma pessoa – R$ 50 reais
Duas pessoas – R$ 40 reais cada
Três pessoas ou mais – R$ 35 reais cada

Local: Av. Dr. Célso Gaudino Fraga, 194 – Vila Paraiso, Piraju – SP

* Isabella Marin é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *