Skate, um esporte coletivo

Laura Barrio*

Em meio ao caos, um respiro. Que a pandemia do coronavírus impactou todos os segmentos da vida cotidiana, o mundo inteiro já sabe. O que talvez surpreenda é descobrir que esse impacto foi positivo para o skate em Piraju. 

“A pandemia fez estourar o esporte, por incrível que pareça”, conta Rafael Schmidt, fundador e presidente da Associação de Skate do Sudoeste Paulista. Na sua avaliação, isso foi resultado das imposições destes tempos, em que todos se veem na necessidade de ficar em casa — “a molecada no quintal, tá todo mundo procurando uma válvula de escape”. 

Para Rafael, que também é proprietário da Schmidt Skate House, uma loja do ramo, esse movimento foi interessante, uma vez que a busca por seus produtos deu um salto. 

Busca por equipamentos cresceu durante a pandemia / Foto: Schmidt Skate House

O que também cresceu foi o interesse por aulas na escolinha criada em 2017 pelo skatista e onde ele dá aulas voluntariamente — a Pira-yu Escola de Skate. Nesse caso, Rafael não pôde atender toda a demanda, por respeito às recomendações sanitárias de distanciamento social. Ele conta ter 30 alunos regulares, dos quais quatro são meninas — “e o interesse delas está crescendo a cada dia”, garante. 

Manô, Laurinha e Luna, alunas da Pira-yu Escola de Skate / Foto: Pira-yu Escola de Skate

Prestes a finalizar o Curso de Capacitação e Atualização em Monitoria e Aulas de Skate, oferecido pela Federação Paulista de Skate, o professor vê no esforço da comunidade skatista pirajuense o segredo para o sucesso crescente da modalidade na cidade. 

Durante seus 25 anos de prática, Rafael acompanhou de perto a evolução do skate em Piraju. Quando começou, ainda menino, andava pelo asfalto e calçadas porque não havia estrutura adequada. Foi só em 2005 que, fruto da organização e pressão do coletivo de atletas por meio de abaixo-assinados e apelos, veio a grande conquista: a primeira pista de skate da cidade, no Fecapi. 

“Ter uma pista transformou o cenário. Piraju começou a atrair skatistas de outras cidades, e aí eles foram se conhecendo e o esporte foi alavancando”, conta Rafael. Ele ainda diz que a pista tem uma estrutura muito boa e destaca que os atletas puderam acompanhar de perto e palpitar no projeto da prefeitura. 

Junto de alguns amigos, Rafael passou a organizar pequenos eventos de promoção do skate, o que mais tarde rendeu projetos mais ambiciosos. O “Agita Praça” é um dos frutos dessa iniciativa. O evento transita de bairro em bairro, levando esporte e cultura aos moradores locais: “A gente leva obstáculos, dá aula na rua, faz educação ambiental e apresentações culturais com artistas da cidade”.

Com o sucesso do encontro, veio a ideia de expandir o projeto. O “Agita Cidade” nasceu, então, como um circuito regional desenvolvido por sete municípios do Alto do Vale do Paranapanema — Piraju incluso. Nesse intercâmbio entre as cidades, há o fomento ao esporte combinado à promoção cultural. 

1ª edição do Agita Cidade, realizado em junho de 2019, no Centro de Convenções Dr. Richardson Louzada, em Piraju / Foto: Agatha Schmidt

Segundo o skatista, há uma preocupação de que o esforço empreendido não valha apenas para uma tarde de diversão, mas, sim, deixe um legado. “A gente entra em contato com a prefeitura, junta lata de tinta, faz mutirão, reforma a pista… Porque na região tem bastante pista, mas a maioria está largada”, explica. 

Ambos os projetos estão em suspenso em razão da pandemia.

Foto: Associação de Skate do Sudoeste Paulista

Rafael conta, também, que nas pistas sempre rolaram muitas fotos e filmagens, mas não tinha o que fazer com todo esse material. Daí surgiu a ideia de criar uma revista digital — a “Bera”. Além das imagens, as edições traziam entrevistas com os skatistas iniciantes que ainda não tinham visibilidade, apesar de estarem se destacando. 

A estratégia adotada por Rafael foi intercalar esse material com matérias sobre atletas profissionais e de renome. E deu certo: “A revista tinha em média 11 mil acessos, vindos de vários países”. Após 20 edições, o projeto está adormecido, mas o idealizador tem planos de retomá-lo.

Para Rafael, mais do que um esporte, o skate é um estilo de vida. “Todos meus amigos, viagens, aprendizados, encontros… É tudo no skate.” Ainda segundo ele, apesar das manobras serem “você e o skate”, a modalidade é coletiva. “A união é incrível, o skate agrega modos diferentes de pensar todos os estilos. Até a carreira é moldada por ele: você vira fotógrafo, videomaker, artista plástico de shape ou camiseta.” E, como se não bastasse, “tem o condicionamento também, o skate faz bem pra saúde física e mental”.   

Campeonato de skate realizado em 2015 em Piraju / Foto: Schmidt Skate House

*Laura Barrio é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

One thought on “Skate, um esporte coletivo

  • 25 de fevereiro de 2021 em 10:24
    Permalink

    Parabéns ! Skate é vida!!

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *