Mergulhados no ritmo alucinante atual, não raro nos perguntamos que tempos são estes, em que parecemos nos curvar diante de uma realidade que se torna cada vez mais complexa, que baniu as certezas e permite apenas opiniões circunstanciais. Para o bem ou para o mal, é o que parece restar nesta virada de século, que coincide com uma virada também de milênio. Estamos plugados na Internet, lemos jornais, temos acesso aos mais variados tipos de literatura, assistimos à TV, ouvimos o rádio. O mundo parece estar mais do que nunca interligado. Ironicamente, essa mesma interligação abriu, abre, questões que nos deixam com o queixo caído, provoca situações em que o sentido parece caminhar dois palmos à frente dos nossos narizes. Duas dessas questões complexas são contempladas no presente dossiê da Revista USP, que se intitula "Pós-Modernidade e Multiculturalismo". Acostumados ou não ao jargão acadêmico, já topamos muitas vezes, creio, com essas duas palavras – que na verdade até agora soam como palavrões. Tempo de fim das ideologias, tempo do chamado fim das vanguardas, que conceitos estão embutidos dentro dessas duas expressões? Por que desavisadamente olhamos desconfiados para elas, achando-as balela, assunto para desconversar? Essas são as questões que o presente dossiê analisa, esmiúça com lente de microscópio. Sim, porque elas atravessam nosso cotidiano, perpassam a realidade e, mais importante, a modificam a cada instante. Trazer um entendimento maior ao leitor desses temas, enriquecê-lo com as leituras aqui expostas, foi o trabalho nesta edição. Que conta ainda com uma seção –Homenagem– aos saudosos Ulhôa Cintra, José Paulo Paes e Antônio Soares Amora.

FRANCISCO COSTA

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